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10 junho 2008

sobre DUDU Nicacio



http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=5797&busca=Dudu+Nic%E1cio&busca=Dudu+Nic%E1cio&busca=Dudu+Nic%E1cio





Ouro de aluvião no veio BH-RJ do sambaISRAEL DO VALEisraeldovale@uol.com.brO samba se renova a olhos vistos. E Minas Gerais [QUEM DIRIA!]é uma espécie de bússola destes tempos: uma vibração intensa, autoral inclusive, que deságua agora, com frescor, numa safra de compositores, intérpretes e instrumentistas de especial talento.Dois do Samba é a ponta deste iceberg. E demarca com "catiguria" um momento especialíssimo, de uma geração a um só tempo curiosa e reverente, que dialoga com o passado e redesenha limites e fronteiras. Geográficas, inclusive. Que abre picadas para uma via de mão dupla promissora.E insinua a ampliação de um eixo Beagá-Rio [exercitado, por exemplo, por Sergio Santos e Paulo César Pinheiro], desdobrado desde já por artistas como Aline Calixto [carioca convertida à mineiridade ainda na meninice] e Miguel dos Anjos [mineiro recém-abduzido pelo carioquismo], apenas para citar dois outros nomes de destaque, ambos prestes a lançar seus CDs de estréia, igualmente grávidos de conexões com o universo musical carioca."Dois do Samba", o disco, é o rebento inaugural desta bem-vinda confluência de interesses e cumplicidades do que se poderia chamar de geração zero40 -aquela que extrai do lá e cá na BR-040 o ouro deste novo veio do samba. Dois do Samba, o projeto, é o encontro das águas do mineiro Dudu Nicácio com o carioca Rodrigo Braga. Resume, como nenhum outro, o espírito de compadrio e cumplicidade destes tempos.Traz, na origem, o sentimento do samba como arte do encontro e do compartilhamento -a exemplo de dobradinhas clássicas como as de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, de Baden e Vinicius, Wilson Moreira e Nei Lopes, Moacyr Luz e Aldir Blanc.Dudu Nicácio e Rodrigo Braga resumem, em torno de si, uma confraria de afinidades. Mineiro de Oliveira radicado em Belo Horizonte, Dudu carrega no DNA um histórico familiar de relação com o meio artístico em geral e o samba em particular. Herança do pai, diretor de teatro e de duas escolas de samba em sua cidade natal -e o velho Nicácio, lá do firmamento, mantém-se ativo como inspirador, com o nome estampado no teatro municipal e na quadra de uma das escolas de samba de Oliveira.Ator, palhaço e músico por devoção, advogado por profissão, Dudu tem o engajamento dos defensores de pequenas causas e a malícia e o carisma da vida vivida -talhada musicalmente, desde a infância, em serenatas pelas ruas de sua cidade. Carioca de Campo Grande, Rodrigo aprendeu a marcar compasso na companhia do pai, maquinista do circuito Oswaldo Cruz >Madureira de trem. Pianista e diretor musical [dentre outros, do Jongo da Serrinha do saudoso Seo Darcy], compositor de mão cheia [parceiro de artistas como Seu Jorge], Rodrigo é um letrista e intérprete de malandragem inata, no jeito e na voz.Todas as músicas de "Dois do Samba" foram compostas em Belo Horizonte, onde os dois se conheceram nas expedições de Rodrigo para registrar seu piano na [delicadíssima e soberba] estréia em disco de Dudu -uma parceria com a [EXCEPCIONAL!]cantora Leopoldina [que grava atualmente o primeiro solo, parcialmente dedicado ao samba]. Artífices do que traduzem como a "aventura do cotidiano", Dudu Nicácio e Rodrigo Braga fazem deste Dois do Samba um bate-bola criativo e bem-humorado com alto teor de vida real. Cronistas de seu tempo, extraem graça de tudo e todos -em nome da flor, da dor, do amor, do elevador. "Dois do Samba" é um disco cheio de atributos e participações -de músicos do Rio, sobretudo [e participações luxuosas como a de Dona Sú do Jongo e Casuarina], mas também de Beagá [do virtuosismo pé-no-chão do cavaquinhista Warley Henrique à contundência do coro das Meninas de Sinhá -recém-ganhadoras do prêmio Tim].Um encontro geracional orquestrado pela produção do próprio Rodrigo Braga, numa dobradinha determinante com Tiago Mocotó - dono de um disco solo surpreendente que o eleva a bem mais que "irmão de Gabriel, o Pensador". Craque do jogo de palavras e percussionista feroz, Mocotó maneja sobretudo o lado mais batuqueiro do disco -um grande passeio pelo samba crioulo, o samba-de-roda, o jongo e o maxixe, com forte pendor para o partido alto."Dois do Samba" é um disco pra frente e pra cima. Pra frente, porque acolhe ao universo do samba uma nova geração, que o impulsiona de novo, com elegância, a partir do diálogo com o passado; pra cima, porque é difícil não se sentir à vontade, no boteco afetivo de cada um, e sair cantarolando refrões --que caberiam com naturalidade na boca de Martinho da Vila ou Zeca Pagodinho.E basta um deles [do hit certeiro "Samba Morena"] para mostrar como os meninos são abusados: "Eu vou comendo quietinho/ como um bom mineiro/ com fé em Santo Antônio/ eu vou seguir solteiro". Precisa falar mais?Israel do Vale, 40, diretor de programação e produção da Rede Minas, escreve neste espaço aos sábados. israeldovale@uol.com.br