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29 julho 2009

Cultivadores ruins

(*) Carlos Lúcio Gontijo

SE É verdade que o Brasil avança economicamente, não é menos verdadeira a afirmação de que avança, também, o ambiente de uma guerra civil branca, que segue ceifando vidas humanas, principalmente nos grandes centros urbanos, onde a luta entre os dois Brasis se instaura claramente. É o duelo entre a Bélgica enriquecida contra a Índia faminta, como se costumava dizer na década de 1990, quando a situação da violência no Brasil já ganhava contornos preocupantes, com os governantes e a sociedade organizada apenas assistindo ao crescimento da discórdia social.
COMO NADA se perde, a desgraça alheia se transformou em matéria-prima e oportunidade de lucro para muita gente. Assim, convivemos pacificamente com a indústria da seca, que alcança seu auge com a possibilidade de transposição das águas do Rio São Francisco; com as milhares de entidades de proteção de menores abandonados, dos idosos, dos sem-casa, dos sem-terra, da população indígena, da natureza cada vez mais depredada e por aí afora.
EXPLICITAMENTE, a democracia brasileira se especializou e se tornou suficientemente forte apenas para acumular riquezas em poder de poucos e distribuir prejuízos e pobreza para a grande maioria, numa verdadeira socialização às avessas. Saídas emergenciais e programas como o Fome Zero e o Bolsa-Família são paliativos que comprovam a dificuldade de se mexer nos alicerces responsáveis pela manutenção da desigualdade social com que convivemos desde o descobrimento do País pelos portugueses.
A FALTA de sensibilidade social que persiste entre nós é responsável direta pelo problema dos menores infratores, que não teria a repercussão que alcança, caso representasse apenas o despreparo das forças policiais e da própria Justiça em lidar com ele. Ou seja, o problema do menor delinqüente é produto originário de pais abandonados, de famílias desestruturadas, pobres material e intelectualmente.
PRECISAMOS, sem cair no moralismo barato nem confundir democracia com regime em que é proibido proibir, retomar valores culturais que nos reconduzam ao respeito pelo próximo e ao apreço pela vida. Nesse sentido, o próprio governo e todos os poderes da República dariam uma grande contribuição se colocassem o cidadão acima de todas as querelas políticas e disputas por cargos e notoriedade. À guisa de exemplo, expomos que não há lição maior de violência e desvalorização da vida do que deixar – como muitas vezes as páginas dos jornais divulgam –, ser humano morrer na fila de hospital público sem acesso ao indispensável atendimento médico.
ENFIM, há necessidade de que todos os brasileiros investidos de algum poder de influência se conscientizem de que não há pessoa alguma predestinada ao mal ou ao crime, o que há, de fato, são cultivadores ruins.
(*) Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

17 julho 2009

Os Josés Sarneys são muitos

Carlos Lúcio Gontijo

VIVEMOS no país dos eufemismos, no qual falecer é visto como menos doloroso que morrer. O empobrecimento da classe média brasileira é fenômeno econômico cada vez mais explícito, tanto pela queda de rendimentos quanto pela constatação de que as vagas no mercado de trabalho se dão para funções com remuneração basicamente entre um e três salários mínimos.
DESSA FORMA, dentro da filosofia do eufemismo, já temos economistas e institutos de pesquisas alçando assalariados que vivem com mais de US$3 mil por ano, o equivalente a cerca de R$500 reais por mês, à condição de cidadão integrante da classe média.
ATENDENDO a essa lógica de amenizar o problema da má distribuição de renda por meio da magia do eufemismo, os jornais recentemente abriram manchetes anunciando que a classe média vai dobrar no Brasil até o fim do próximo ano. Todavia, esses novos remediados se juntarão àqueles que ganham R$500 reais por mês, valor que mal cobre as necessidades de uma única pessoa com alimentação.
É INEGÁVEL que, nos últimos anos, o Brasil assistiu ao crescimento da classe C, engrossada pela subida de representantes da classe D, sob o estímulo de políticas de transferência de renda, como o Bolsa-Família e pelos aumentos reais concedidos ao salário mínimo. É bom lembrar que, tecnicamente, na classe D estão as famílias com renda entre três a cinco salários mínimos, com rendimento que apenas lhes possibilita acesso a financiamento para a compra, por exemplo, de moradia popular.
NÃO HÁ a menor possibilidade de a adoção de eufemismos desfazer a enorme vocação dos meios de produção para a desvalorização da força de trabalho, principalmente nos dias de hoje em que a política de combate a custos é aplicada insensivelmente sobre os ganhos salariais e eliminação de direitos da classe trabalhadora.
INFELIZMENTE, caminhamos para a construção de uma sociedade dividida, economicamente, em ricos e pobres, deixando de existir a faixa intermediária (a classe média), numa surpreendente e inimaginável socialização às avessas, atendendo à ganância dos detentores de capital, que aprenderam e aperfeiçoaram a individualização de lucros e a plena distribuição de prejuízos com toda a sociedade, que custeia a riqueza material de tantos Josés Sarneys Brasil afora, com assento no parlamento e em instâncias de poder do Estado, mas ostentando direitos equivalentes ao de reis, príncipes e mesmo inescrupulosos ditadores.
É TANTA gente encastelada em grupos de notáveis remunerados e fingindo prestar serviço à Nação, em conselhos que se reúnem uma vez ou outra em suntuosos convescotes, que a elevada carga de tributos se nos apresenta sem qualquer correspondência, por exemplo, com a penúria em que vive o povo nas filas da assistência pública de saúde, onde o Estado ensina (e patrocina) a violência, ao materializar a idéia de que uma vida não vale nada.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

09 julho 2009

Sobre os livros “Jardim de Corpos”
e “Duducha e o CD de Mortadela”

Por REGINA MORELO

Falar da obra de Carlos Lúcio Gontijo exige-nos um reajuste na cadência das batidas do nosso coração, para que possamos pulsar sintonizados com a sensibilidade deste autor, que vem nos encantando, cada vez mais, em cada obra publicada.
Tive o privilégio de leitura do romance "Jardim de Corpos" e da obra infantil "Duducha e o CD de Mortadela". O autor dá um enorme salto do mundo adulto para uma infância – à qual ele revisita –, motivado pela existência de sua neta Luara, verdadeira jóia em formação na família Gontijo.
"Jardim de Corpos" enfatiza, com muita sabedoria, a temporalidade da vida, a necessidade do amor ao próximo e a urgência da luta pela inserção social, pois, segundo o autor,"é sabendo de onde viemos, que podemos medir o quanto andamos e decidir para onde vamos".
Carlos Lúcio esbanja poemas de beleza rara, em forma de portais que se abrem a cada capítulo. Os personagens que compõem o romance nos mostram as várias faces do mundo em que vivemos, dos problemas que vêm tornando difícil a convivência pacífica entre as pessoas, "nesse mar de carências, escassos de canoas solidárias".
“Jardim de Corpos”, esta obra primorosa composta por mais de 300 páginas, nos leva a rever valores, tais como: o amor pela família, a união de amigos em prol da ajuda humanitária, a importância de notícias verdadeiras pelas quais os meios de comunicação são altamente responsáveis.
"Jardim de Corpos" é visita obrigatória para os nossos olhos. Saboreiem, caros leitores, em cada uma de suas páginas, esse prato nutritivo de que tanto necessitamos para a nossa saúde literária. Analise cada personagem. Neles, podemos achar traços de nossas próprias vivências, bem como encontrar algum caminho que o nosso mapa ainda não conseguiu nos mostrar.
Regina Morelo
Professora, poeta, escritora

02 julho 2009