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20 novembro 2009

De jornais, música e literatura

Carlos Lúcio Gontijo


O terceiro jornal mais antigo do Brasil, “Monitor Campista”, de Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense, fundado em 4 de janeiro de 1834, fechou suas portas, provocando a demissão de 40 pessoas, entre jornalistas e funcionários.
O “Monitor Campista” era órgão de imprensa pertencente aos Diários Associados, que ao que parece não se prende muito a essa coisa de tradição e história, pois em meados de 2007 encerrou as atividades do “Diário da Tarde”, um jornal de Minas Gerais que havia iniciado suas atividades em 14 de fevereiro de 1931.
Contudo, o fato verdadeiro e inarredável é que ninguém tem qualquer consideração com o culto à palavra, à língua portuguesa falada no Brasil, à cultura como um todo, passando-nos a cruel constatação de que, em última análise, o recado implícito é que se danem os jornais impressos, os livros e os leitores. Ademais, não é difícil de se levar ao fechamento a maioria dos veículos de comunicação impressos no País, uma vez que basta aos governos federal, estaduais e municipais cortarem a injeção de recursos, para que a bancarrota se lhes venha à tona quase que imediatamente, dado os proprietários de jornais contemporâneos não suportarem qualquer prejuízo.
Ou seja: não amam o que fazem e estão no ramo unicamente em busca de lucro. Não sendo portanto à toa que o noticiário e a cobertura jornalística consomem um volumoso número de páginas voltadas para o mundo dos negócios – constituindo-se uma maneira bem engendrada de aproximar os donos de jornais aos senhores do capital.
No caso do “Monitor Campista”, bastou que a Prefeitura de Campos dispensasse o espaço destinado à publicação das edições do Diário Oficial do Município para que o jornal assistisse a um processo de insolvência quase que imediato, o que certamente deve servir de alerta a veículos impressos (de grande ou médio porte) que firmam a sua arrecadação nas publicidades institucionais, gerando uma dependência financeira e editorialmente comprometedora.
Infelizmente, as agruras que atravancam o setor jornalístico também podem ser encontradas na área musical. Valter Alfaiate, sambista carioca que foi descoberto aos 68 anos, não pôde abandonar a costura, pois a música não lhe rende o suficiente para viver, apesar de todo o reconhecimento em relação ao seu talento como compositor e cantor, numa prova de que a opção pelo grotesco é hoje uma realidade praticamente intransponível: “músicas” como boquinha da garrafa, você não vale nada, mas eu gosto de você e tantos outros “enredos” parecidos se sucedem no pódio das produções artísticas descartáveis.
Entretanto, se o dom da pessoa é a poesia e a literatura, o problema se agrava, pois os incentivos são escassos e, quando existem, acabam nas mãos de gente graúda e especializada na montagem de projetos para acessar verbas públicas. Nossos amigos escritores independentes (João Silva de Souza, Regina Morelo, Antônio Carlos Dayrell, Antônio Fonseca etc.) são intelectuais idealistas que editam a expensas de si mesmos, realizando um luzidio trabalho de cultura e sensibilização dos que têm contato com suas obras e cultuam o indispensável hábito de leitura, que no Brasil não predomina nem em classe nem categoria alguma. Ou seja, não leem os professores, os alunos, os jornalistas, os médicos, os engenheiros, os políticos, o presidente da República e, evidentemente, muito menos os analfabetos.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

26 outubro 2009

da classe
dominante brasileira


HÁ DUAS SEMANAS, as elites dominantes brasileiras usaram todo seu arsenal a disposição: rádios, redes de televisão, jornais impressos, colunistas de plantão, jornalistas pré-pagos, parlamentares oportunistas, ruralistas e até autoridades judiciais para denunciar um vandalismo sem precedentes: a destruição de mil pés de laranjas por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Isso era inconcebível. “Queremos punição!” Bradavam, exigindo nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para criminalizar o MST e todos os que lutam por mudanças neste país. Afinal, nada melhor do que manter o mundo perfeito em que vivemos; não precisa mudar nada e muito menos lutar por mudanças.
Alguns mais afoitos chegaram a concluir: é o fi m do MST. Outros, com verso e prosa declaravam o fim dos movimentos sociais e da reforma agrária. E num só coro, todos clamavam: basta de vandalismo, desses pobres diabos do campo!
Mas a realidade brasileira e a luta de classes é bem mais dura do que seus confortáveis apartamentos e seus diferenciados rendimentos, pagos pelas empresas de comunicação (ou pelo povo?).
Independente das pacatas laranjas e das manipulações da Cutrale/Coca-Cola, detentora de 50 mil hectares distribuídos por mais de 30 fazendas, as duas semanas que se seguiram deram uma demonstração cruel do vandalismo estrutural e ideológico que domina as mentes e a política da classe dominante. Vamos recordar apenas alguns fatos, já que a memória tão curta da grande imprensa os calou:
1. Um incêndio mal explicado numa favela da região oeste de São Paulo deixou centenas de famílias sem absolutamente nada. Ninguém procura explicar porque, em pleno século 21, famílias de trabalhadores ficam expostas a essas condições de vida e riscos absurdos, na maior e mais rica cidade do hemisfério sul;
2. Enchentes e temporais transformam pacatas cidades do interior e grandes metrópoles em verdadeiros infernos. Mas ninguém explica para a população a causa das mudanças climáticas e das “vinganças” da natureza;
3. Oitenta e três trabalhadores da construção civil foram resgatados pela Polícia Federal, pois estavam trabalhando “em condições análogas à escravidão”. Sabe onde? Nada menos do que numa hidrelétrica, na região dos Parecis (MT). Logo as hidrelétricas, que representam tanto progresso;
4. Fazendeiros armados atacam um acampamento dos povos indígenas Kaiowa-guaranis, na região de Dourados (MS), colocam fogo em seus barracos e pertences e os expulsam. Os indígenas perderam tudo, menos a dignidade. Não houve mortes, milagrosamente, porque realizaram a ação à luz do dia, certos da impunidade. Detalhe: as terras da fazenda são dos povos indígenas. Quem é o verdadeiro invasor?;
5. Não bastassem os fatos do Brasil rural, eis que a violência social emerge sem controle nas cidades. Num final de semana no Rio de Janeiro, um helicóptero derrubado, dezenas de mortos, entre moradores, traficantes e policiais. Oito ônibus incendiados. A notícia poderia ser algum distante cenário de guerra, mas não, é na “cidade maravilhosa”. Muitos bairros do Rio vivem em guerra entre traficantes, polícia e milícias armadas e alimentadas pela classe dominante;
6. E a enfermidade social desse vandalismo estrutural, praticado pelas elites, aparece também nas atitudes pessoais de uma classe disposta a tudo para proteger seu patrimônio material. O irmão de um ex-governador de São Paulo, da “fi na flor” paulistana, assassina o próprio fi lho, por causa do mau uso do seu automóvel, e depois se suicida. Triste pobreza ética;
7. O capitalismo propagandeado pela imprensa é o melhor dos mundos. Na agricultura seria um sucesso, com suas empresas e seus venenos. Ledo engano. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) acaba de anunciar que neste mês a humanidade atingiu a marca de 1 bilhão de seres humanos que passam fome todos os dias. É mais do que vandalismo dos que controlam os estoques de comida, já que a produção existente é suficiente. É um verdadeiro genocídio acobertado pelas elites e por seus meios de comunicação.Como se vê, os fatos nos remetem a uma boa reflexão sobre os vandalismos praticados todos os dias pela classe dominante. Isso nos ajuda a pensar sobre quem

09 outubro 2009

A literatura e o jogo de pregos do Xisto Veneroso

Carlos Lúcio Gontijo


Em meu primeiro livro, fiz questão de me anunciar não como poeta ou escritor, mas tão-somente como sensibilista. O tempo passou e mais sensível diante do mundo em me fiz, enchendo-me de certeza que minha literatura não passa de soma e relato de memórias que se enraizaram física e espiritualmente dentro de mim. Às vezes me pego saudoso até de meus passos que ficaram incrustados no tempo, guardando as marcas de minha caminhada vida afora e contendo o peso de minhas esperanças e desesperanças como ser humano perante um planeta Terra cheio de senhores e sinhazinhas, que ainda vivem e se comportam como se a sociedade estivesse sob a égide histórica da casa grande e senzala.
Toda a minha literatura é fruto colhido em minha convivência com as pessoas que me rodeavam ou que me rodeiam, mas que independentemente do tempo me habitam como se eu fosse um lugarejo em carne, ossos e alma. São muitas as pessoas que me ajudaram a moldar a minha visão de mundo, auxiliando-me na formação de conceitos e impregnando-me da crença absoluta na prática do amor ao próximo como a maneira mais fácil de orar e agradar a Deus. Ou seja, somos o terço um do outro e, fora desse prisma, o que temos é a fé pobre de atos, gestos e ação.
Lembro-me constantemente de minha infância em Santo Antônio do Monte, quando aos nove anos escrevia os primeiros poemas e os escondia debaixo do colchão. Minha mãe foi a primeira a descobri-los e, também, a dar apoio para que o desenvolvimento do dom da poesia não se perdesse no emaranhado rude de uma sociedade que confunde a opção pela realidade como sinônimo de desapreço por estrela, pôr-do-sol, pés no riacho...
Naqueles bons tempos de menino em minha Santo Antônio do Monte, era parte dos meus sonhos simples de consumo sentar-me no bar do Xisto Veneroso – o Sô Xisto, que ensinou o meu pai José Carlos Gontijo a dirigir – para tomar refrigerante, chupar picolé, sorvete. Eu e os demais amigos gostávamos de disputar campeonatos de futebol numa tábua, na qual se desenhava um campo e se fixavam pregos como se fossem jogadores. Uma moeda (pratinha era o nome que lhe dávamos) fazia a vez de bola, que recebia uma tacada feita com o dedo, alternadamente, pelos contendores. Sô Xisto foi quem engendrou a melhor tábua de jogo e deu ao filho Oswaldo, que nos permitia usufruir do disputado brinquedo.
E eis que estava certa feita no bar do Xisto tomando refrigerante com sorvete, enquanto caía uma chuva fina que, aos poucos, foi diminuindo até parar de vez. Ao sair, como já não chovia, acabei me esquecendo do guarda-chuva e, no dia seguinte, dirigi-me até o bar a fim de recuperá-lo. Sô Xisto, gentil e educadamente, pôs-se a procurar pelo guarda-chuva, mas chegou à conclusão de que alguém o havia levado. Chateado com o sumiço, apesar de não ter culpa alguma pelo ocorrido, me disse: “Olha, Lúcio, não tenho como lhe devolver o guarda-chuva! Mas que tal você ficar com o jogo de preguinho como compensação? Não pensei duas vezes e aceitei a proposta.
Disputei muitas partidas no especial brinquedo. Casei-me, vieram os filhos e com eles muitas vezes revivi a minha época de criança em Santo Antônio do Monte, cidade em que esqueci (ou perdi) os meus passos de menino e que, repetindo o gesto do Sô Xisto, não me podendo devolvêosme podendo devolvdo seu Xistopassos de menino e que vocuir do disputado bringuedo.
mpo habitaminda dividem peso de minha-los d -los, premiou-me com o alicerce de alma e sensibilidade que norteia a minha literatura, ensinando-me que “História verdadeira cheira a berço”, como um dia grafei num dos versos do poema “O ser poetizado”.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br




uso

02 outubro 2009

Dia do Professor, 15 de outubro

Carlos Lúcio Gontijo


A lamentável situação do ensino brasileiro, onde as crianças completam, em média, apenas quatro anos na escola, é responsável pelo baixo poder de mobilização da sociedade constantemente tripudiada e dirigida por uma elite que vai da empresarial, política, intelectual e religiosa até à indisfarçável elite sindical.
Não é preciso ser nenhum especialista em educação para observarmos que o planejamento estrutural do ensino brasileiro, principalmente o fundamental, se encontra pedagogicamente montado para atender 20% de sua clientela, uma vez que sua linguagem está voltada para os usos e costumes das camadas mais abastadas ou menos desafortunadas da população, o que explica o fato de muitos alunos abandonarem os estudos antes de completar o quarto ano. Ou seja, a própria formatação didática contribui para a ampliação da evasão escolar.
Os temas educação e saúde são tratados como prioritários apenas nos períodos eleitorais, quando os políticos, do alto de seus palanques, buscam a conquista dos votos necessários para alcançar o sonhado mandato, por meio do qual ao invés de se tornarem representantes do povo passam a ser representantes de si mesmos e dos grupos financiadores de suas campanhas.
A bem da verdade o governo brasileiro ainda se nos apresenta bastante distante de exercitar o investimento pleno em educação e saúde, que são setores onerosos e de resultados a longo prazo, que costumam ser colhidos a pelo menos uma geração depois de aplicados, ao passo que a eleição está sempre tão próxima. Não é à toa portanto que o Brasil, em matéria de educação, esteja ao lado da Indonésia, Paquistão e Bangladesh, situando-se assim entre os dez países que, juntos, arcam com 73% dos analfabetos de todo o Planeta. Por desestímulo, pobreza, distância da escola ou necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família, um número significativo de alunos deixam os estudos constantemente.
Diante de um quadro em que a administração pública não prioriza a educação, é lógico que os professores padeçam a saga do descaso e dos baixos salários. Em Minas Gerais , por exemplo, uma bibliotecária do ensino fundamental, mesmo com o propalado incentivo à leitura apregoado pelo governo do Estado, já em final de carreira, preste a se aposentar, com todos os quinquênios e penduricalhos possíveis, não ganha mais que 600 reais.
Indubitavelmente, ao constatarmos o nosso estágio educacional, somos tomados pela certeza de que as nossas autoridades constituídas seguem, com renitência e devoção, o famoso conselho de Lao-Tsé, filósofo chinês nascido na China ( 604 a .C), que recomendava aos governantes: “Enfraquecei os espíritos e fortificai os ossos”. Ou mais claramente: educar o povo é arruinar o Estado, colocar em perigo o poder totalitário – democraticamente legitimado pelas urnas e dependente da ignorância dos cidadãos, que subjugadas culturalmente não conseguem exercer em plenitude a sua cidadania.
Dessa forma – numa homenagem ao Dia dos Professores –, conscientes de que jamais seríamos o “escriba” (ainda que menor) que somos sem o apoio dos mestres que passaram por nossa vida estudantil, enviamos muitos livros de nossa autoria, em espontânea doação, às 18 bibliotecas conveniadas à Associação dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte (SABIC), à Borrachalioteca (criação do jovem amigo Marcos Túlio Damascena, em Sabará/MG), além de passar exemplares ao idealista projeto “Livros ao Pé da Árvore”, sob o comando do sensível advogado e escritor João Silva de Souza, que esporadicamente sai, aos domingos e feriados, deixando obras literárias pelas praças da capital mineira afora, sob a esperança de que elas façam germinar, na mente das pessoas que as “pegarem”, a esperada flor primaveril sonhada por todos os bons professores e defensores da educação: o supremo e indispensável gosto pela leitura.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

29 setembro 2009

A cultura do você não vale nada...

Carlos Lúcio Gontijo


A opção pela cultura do entretenimento e pelo patrocínio aos chamados grandes eventos semearam a falsa idéia de que a literatura voltada para a reflexão não faz parte do mundo cultural, sendo tomada como um estorvo na vida do cidadão à procura de lazer e diversão. Está aí, para não nos deixar mentir, a propaganda institucional da Caixa Econômica Federal, que preferiu enveredar-se para o modismo dos apelos fáceis e desprovidos de mensagem construtiva, ao prestigiar e premiar o arremedo musical “Você não vale nada, mas eu gosto de você”.
Não é à toa que um enorme contingente da população brasileira vive à custa de programas como o Bolsa Família e tantos outros instrumentos assistenciais públicos, cujo objetivo é amenizar os efeitos desastrosos da combinação entre a pobreza intelectual e a miséria material. A certeza absoluta nos dias de hoje é que, além do investimento na produção, é preciso criar condições de acesso democrático a ensino público de qualidade como forma de melhoria da educação e da mão de obra disponível no Brasil. Enfim, é preciso investimento maciço e duradouro no ensino de primeiro grau e ampliar a educação profissional dos adultos.
Os poetas e escritores não podem virar as costas para a situação educacional do País, pois a força da palavra escrita se acha diretamente relacionada com o grau de ensino dos cidadãos. É espantoso nos deparamos com dados que nos dão conta que um servente da construção civil do Canadá lê mais livros anualmente que um estudante de último ano universitário no Brasil.
Estamos na labuta literária desde o lançamento de nosso primeiro livro em 1977 e, ao longo dos anos, assistimos ao aumento das dificuldades em torno da edição de livros, apesar de o governo ter contribuído com a isenção de impostos para o exercício da atividade. Consciente das pedras no caminho dos autores literários independentes, que vão desde o levantamento de dinheiro para cobrir os custos editoriais, passando pelas agruras do momento do lançamento, quando os riscos de fazê-lo em solidão são grandes tanto no tocante a escritor conhecido quanto àqueles que não dispõem de prestígio junto aos meios de comunicação.
Jamais, como jornalista ou como poeta e escritor, perdemos de vista a realidade sob a qual exercemos o nosso trabalho literário. Infelizmente, sempre existiu no Brasil uma pobreza irredutível, formada por pessoas reconhecidamente incapazes – por baixo nível educacional e formação profissional insuficiente ou mesmo saúde precária – de viver por conta própria e que, assim, necessitam de assistência direta dos governos federal, estadual e municipal. Contudo, definitivamente, não alcançaremos melhoria alguma enquanto o trabalho de conscientização não contar com educação de qualidade, razoável índice de leitura e com a divulgação de trilhas sonoras populares bem acima do festejado “Você não vale nada, mas eu gosto de você”.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

01 setembro 2009

Biblioteca sob ameaça de fechamento


Carlos Lúcio Gontijo


Quem se acha envolvido com a arte literária não se pode guiar pelos sites e blogs que atraem o interesse de milhares ou milhões de internautas. Literatura nunca foi objeto de interesse das grandes multidões, até porque a história do poder que se manteve (e se mantém) no comando das nações jamais registrou governante entregue ao cabal empenho de dar à sua gente ensino democratizado e de qualidade abrangente. O que assistimos, na maioria das vezes, é à existência de esforços pontuais, à medida que a realidade comprova que o cidadão mais caro é aquele que não dispõe do grau de educação exigido pelo mercado de trabalho e termina por necessitar da proteção de dispendiosas políticas públicas de assistência social.
Platão, ciente da escassez de leitores, dizia que, “se um livro fosse lido por uma única pessoa além de seu próprio autor, já estaria justificada a sua existência”. Ou seja, os que se dedicam ao trabalho literário não se devem conduzir pela busca da fama ou da notoriedade imediata alcançada por pessoas que atuam em áreas de intenso apelo popular. Não há como espaço virtual literário sério alcançar o mesmo número de acesso de BBBs ou chamar a mesma atenção recebida pelas mídias que se dedicam a divulgar fofocas e curiosidades relativas à vida dos que habitam o mundo dos ricos e famosos.
Dentro desse prisma, não nos fazemos dispostos a aceitar o anúncio da possibilidade de fechamento de biblioteca digital desenvolvida em software livre, sob a alegação simplista de que o endereço virtual é pouco acessado (www.dominiopublico.gov.br). Antes de colocar em prática a guilhotina projetada, os burocratas da administração pública brasileira deveriam reportar-se a Platão e, assim, manter no ar tão importante site, no qual o solitário e casual internauta pode ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci; ler Machado de Assis, outras 732 da literatura portuguesa e várias histórias infantis; ouvir músicas de qualidade em MP3 etc.
Enfim, o que esperamos é que a autoridade pública não caia no conto de transferir para o número de acesso o único motivo para a existência ou não de um endereço virtual voltado ao aprimoramento do conhecimento humano. E tem mais: já pensou se, diante dos descalabros que assolam a humanidade, decretássemos o fim da racionalidade humana por absoluto desuso da razão! Não foi à toa, portanto, que lacramos o contador de acesso de nosso site (www.carlosluciogontijo.jor.br): temos plena consciência que a literatura, quase sempre embebida em sentimento reflexivo, não ostenta o poder de disputar o voo da freguesia com os insistentes chamamentos em direção ao supérfluo bem embalado e dourado como solução para o total esquecimento das dores do mundo, contribuindo para a construção de um ambiente comportamental que deságua na cultura de evento, na qual o hábito de leitura não é visto como fonte de entretenimento, prazer e lazer – não passando de pedra no caminho.
Eis aí o porquê de, ao atingirmos 100 mil acessos, não mais registrarmos o número de visitas ao nosso site, explicando a nossa decisão com o poema CONTADOR LACRADO: Não posso deixar minha literatura/ Dependente de número de acesso/ Seria para ela tortura e retrocesso/ Da internet só quero o endereço/ E o apreço do internauta sensível/ Por isso, apago as luzes da ribalta pueril/ Lacro agora o contador em cem mil/ Ciente de que o louvor que procuro/ É fruto de tempo aos molhos/ Que sobre a literatura por que luto/ Um dia debruçará seus olhos.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista

27 agosto 2009

na carreira dos enta

____________________________________________________________________________ marcio almeida

A vida, enfim, passa a ser só o problema.
Ao chegar mais longe, viva o passado.
O seu porvir, com otimismo, é o dilema:
decrepitude, desmemória, lance sem dado.

O que foi prazer, hélàs!, não se repete,
pior é o tempo – caminho em fuga:
o que era doce hoje amarga diabetes,
o rosto em fogo? – um canyon de rugas.

Mire-se no espelho: você é quem?, diga
a seus iguais anciãos de banco,
de filas que se empurram com a barriga,
veja: pois faltam até cabelos brancos...


Nessa idade se despede o que não pode,
o que não deve vira lei e cobra caro.
A vida pende para ser mais um Herodes:
- muito cuidado com espirros e esbarros.

Aquela pinga com torresmo, muita cautela!
Qualquer excesso, até de água, vira milícia:
o amor é o que já não se faz com ela,
maturidade é uma infância com malícia.

E vai-se em frente com a coragem em polvorosa,
mesmo porque, não minta! – é sem retorno.
Envelhecer é digno como espinho duma rosa,
fica o exemplo que, fértil, se molda em torno.

Há bobices que os pré-velhos têm nos lábios
que matracam entre dentes de resina,
não é o tempo o mestre justo do que é sábio,
mas o que a falta não permite sorte e sina.

Há todo um imbroglio de armadilhas à saúde,
que a vida ousada ou só brinquedo fez doer:
pois tecle um para lembrar bolas de gude,delete o mal que a vida

21 agosto 2009

manuelrabelo@yahoo.com.br>



Multiplicação dos complexos culturais em BH

Carlos Lúcio Gontijo


OS ESPAÇOS culturais se multiplicam em Belo Horizonte , especialmente na área central da cidade, onde vários imóveis foram transformados em centros culturais nos últimos anos e, ao que parece, com a criação do novo centro administrativo pelo governo do Estado, teremos uma surpreendente multiplicação dos complexos destinados à cultura – o que por si só não resolve a falta de patrocínio enfrentada pelos verdadeiros agentes culturais: os artistas plásticos, os músicos, os artesãos, os atores, as companhias teatrais, os poetas, os escritores etc.
A SIMPLES abertura de novos espaços destinados à apresentação do propalado (mas tão desvalorizado) bem cultural pode ser tomada por desavisados como o surgimento de uma espécie de céu de brigadeiro, entretanto a realidade é que a cultura ainda vive sob a triste tempestade moral do pires na mão e do incoerente ato de assistir à liberação dos escassos recursos de que dispõe para os chamados artistas de ponta, que, apesar de detentores de carreiras consolidadas, não abrem mão do dinheiro público (Caetano Veloso, que o diga!), ao qual chegam com todas as facilidades proporcionadas pelo exercício do jogo de influência possibilitado pelo prestígio que ostentam.
DESSA FORMA, aos observadores mais apressados pode parecer que estamos no limiar de uma magnífica revitalização e resgate da vocação cultural do Centro da capital mineira, porém é bom que todos atentem para o fato de a área já abrigar, por exemplo, alguns teatros que sobrevivem a duras penas.
OU SEJA, o problema cultural não está na falta de palcos formais de apresentação, mas na ausência de investimento no produtor de cultura – o artista –, que não encontra patrocinadores, uma vez que a Lei Rouanet, equivocada e erroneamente, favorece a captação de recursos (quase que exclusivamente) por autores conhecidos ou focados pela mídia, pois o empresário, antes da análise cultural, tem como objetivo dar projeção à sua logomarca, ao produto que fabrica e comercializa.
DISPONIBILIZAR locais para eventos artísticos talvez seja a questão mais fácil do setor cultural; a real dificuldade reside em alavancar recursos para incentivar a montagem e apresentação de peças teatrais, exposições e impressão de livros, pois há todo um cenário de custos, inclusive no campo publicitário, para atrair um público cada vez mais voltado aos apelos do grotesco, trabalhos culturais explicitamente descartáveis e de discutível valor como ferramenta capaz de auxiliar na formação ou construção de um cidadão mais consciente e melhor.
ENFIM, o incentivo à cultura vai (e está) muito além da abertura ou disponibilização de espaços culturais: é preciso investir em seus autores/atores por meio da democratização do acesso aos incentivos culturais, que hoje são direcionados e pretensamente orientados por uma espécie de política cultural imediatista do patrocinador/empresário – distante da necessária visão pública do bem cultural.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

15 agosto 2009

Livros ao pé da árvore
e Obama de Nova Iguaçu

Carlos Lúcio Gontijo



Os que são guiados pelo dom divino da prática literária percebem, na maioria das vezes, a invisibilidade em que se acha envolvido o seu trabalho diante da carência de espaço para divulgação e da indiferença advinda da mais completa falta de hábito de leitura. E quando falamos em escassez de leitores não estamos debitando a triste realidade ao baixo índice educacional da população brasileira, pois uma imensa gama de professores, estudantes e graduados em curso superior não está nem aí para livros.
A produção literária é matéria desprovida de valor exatamente por não ser tomada como elemento prioritário na vida das pessoas cada vez mais movidas pelo imediatismo e atraídas pelo consumo imediato, capaz de fazer do supérfluo uma coisa essencial e alvo da atenção de todos. Então, na falta de hábito de leitura e gosto pelo embevecimento da alma proporcionado pela pureza inebriante da poesia, assistimos ao avanço da busca pela cocaína pura –para alegria do tráfico de drogas e propagadores da violência que nos assola.
Idealista e ao mesmo tempo amante da luta em prol da construção de uma sociedade menos injusta e mais fraterna, o advogado e escritor João Silva de Souza realiza, há um bom tempo, o trabalho solitário e bem-intencionado de colocar, estrategicamente, livros ao pé de árvores nas imediações da Praça da Liberdade.
Desejoso de encontrar e fazer contato com cidadãos civilizados e interessados na indispensável arte literária, ele escreve mensagem acompanhada de endereço em cada livro semeado ao lado das árvores que embelezam a famosa praça pública da capital dos mineiros. Contudo, o autor de tão inspirada iniciativa jamais recebeu sequer um telefonema ou um simples bilhete de agradecimento.
Felizmente, essa invisibilidade em que vive parte significativa dos que integram o malcuidado campo literário vem, aos poucos, sendo desfeita, ou melhor, diminuída com o advento da internet, que tem como relevância a instalação de um ambiente mais democrático e fora dos parâmetros impostos pelos tradicionais, glaciais e pretensamente eruditos cadernos de cultura editados pela grande mídia.
Outro dia, ao digitarmos nosso nome no Google, nos deparamos com uma prova de que estamos no limiar de novos tempos. Lá encontramos o seguinte tópico: “Vamos falar de poetas? – Yahoo! Respostas”, no qual o proponente escreveu altivo: “O que vocês acham dos poetas Lord Byron e Charles Baudelaire? E quais são os seus favoritos? Para nossa surpresa, uma resposta explícita saltou-nos aos olhos, remetendo-nos à importância do site que mantemos no ar com tanto empenho. “Não os conheço. Vou pesquisar. Mas veja alguns poetas portugueses: Carlos Lúcio Gontijo, Sérgio Porto, Carlos Morais Santos”. Assinado, Obama de Nova Iguaçu – com foto e tudo!
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

29 julho 2009

Cultivadores ruins

(*) Carlos Lúcio Gontijo

SE É verdade que o Brasil avança economicamente, não é menos verdadeira a afirmação de que avança, também, o ambiente de uma guerra civil branca, que segue ceifando vidas humanas, principalmente nos grandes centros urbanos, onde a luta entre os dois Brasis se instaura claramente. É o duelo entre a Bélgica enriquecida contra a Índia faminta, como se costumava dizer na década de 1990, quando a situação da violência no Brasil já ganhava contornos preocupantes, com os governantes e a sociedade organizada apenas assistindo ao crescimento da discórdia social.
COMO NADA se perde, a desgraça alheia se transformou em matéria-prima e oportunidade de lucro para muita gente. Assim, convivemos pacificamente com a indústria da seca, que alcança seu auge com a possibilidade de transposição das águas do Rio São Francisco; com as milhares de entidades de proteção de menores abandonados, dos idosos, dos sem-casa, dos sem-terra, da população indígena, da natureza cada vez mais depredada e por aí afora.
EXPLICITAMENTE, a democracia brasileira se especializou e se tornou suficientemente forte apenas para acumular riquezas em poder de poucos e distribuir prejuízos e pobreza para a grande maioria, numa verdadeira socialização às avessas. Saídas emergenciais e programas como o Fome Zero e o Bolsa-Família são paliativos que comprovam a dificuldade de se mexer nos alicerces responsáveis pela manutenção da desigualdade social com que convivemos desde o descobrimento do País pelos portugueses.
A FALTA de sensibilidade social que persiste entre nós é responsável direta pelo problema dos menores infratores, que não teria a repercussão que alcança, caso representasse apenas o despreparo das forças policiais e da própria Justiça em lidar com ele. Ou seja, o problema do menor delinqüente é produto originário de pais abandonados, de famílias desestruturadas, pobres material e intelectualmente.
PRECISAMOS, sem cair no moralismo barato nem confundir democracia com regime em que é proibido proibir, retomar valores culturais que nos reconduzam ao respeito pelo próximo e ao apreço pela vida. Nesse sentido, o próprio governo e todos os poderes da República dariam uma grande contribuição se colocassem o cidadão acima de todas as querelas políticas e disputas por cargos e notoriedade. À guisa de exemplo, expomos que não há lição maior de violência e desvalorização da vida do que deixar – como muitas vezes as páginas dos jornais divulgam –, ser humano morrer na fila de hospital público sem acesso ao indispensável atendimento médico.
ENFIM, há necessidade de que todos os brasileiros investidos de algum poder de influência se conscientizem de que não há pessoa alguma predestinada ao mal ou ao crime, o que há, de fato, são cultivadores ruins.
(*) Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

17 julho 2009

Os Josés Sarneys são muitos

Carlos Lúcio Gontijo

VIVEMOS no país dos eufemismos, no qual falecer é visto como menos doloroso que morrer. O empobrecimento da classe média brasileira é fenômeno econômico cada vez mais explícito, tanto pela queda de rendimentos quanto pela constatação de que as vagas no mercado de trabalho se dão para funções com remuneração basicamente entre um e três salários mínimos.
DESSA FORMA, dentro da filosofia do eufemismo, já temos economistas e institutos de pesquisas alçando assalariados que vivem com mais de US$3 mil por ano, o equivalente a cerca de R$500 reais por mês, à condição de cidadão integrante da classe média.
ATENDENDO a essa lógica de amenizar o problema da má distribuição de renda por meio da magia do eufemismo, os jornais recentemente abriram manchetes anunciando que a classe média vai dobrar no Brasil até o fim do próximo ano. Todavia, esses novos remediados se juntarão àqueles que ganham R$500 reais por mês, valor que mal cobre as necessidades de uma única pessoa com alimentação.
É INEGÁVEL que, nos últimos anos, o Brasil assistiu ao crescimento da classe C, engrossada pela subida de representantes da classe D, sob o estímulo de políticas de transferência de renda, como o Bolsa-Família e pelos aumentos reais concedidos ao salário mínimo. É bom lembrar que, tecnicamente, na classe D estão as famílias com renda entre três a cinco salários mínimos, com rendimento que apenas lhes possibilita acesso a financiamento para a compra, por exemplo, de moradia popular.
NÃO HÁ a menor possibilidade de a adoção de eufemismos desfazer a enorme vocação dos meios de produção para a desvalorização da força de trabalho, principalmente nos dias de hoje em que a política de combate a custos é aplicada insensivelmente sobre os ganhos salariais e eliminação de direitos da classe trabalhadora.
INFELIZMENTE, caminhamos para a construção de uma sociedade dividida, economicamente, em ricos e pobres, deixando de existir a faixa intermediária (a classe média), numa surpreendente e inimaginável socialização às avessas, atendendo à ganância dos detentores de capital, que aprenderam e aperfeiçoaram a individualização de lucros e a plena distribuição de prejuízos com toda a sociedade, que custeia a riqueza material de tantos Josés Sarneys Brasil afora, com assento no parlamento e em instâncias de poder do Estado, mas ostentando direitos equivalentes ao de reis, príncipes e mesmo inescrupulosos ditadores.
É TANTA gente encastelada em grupos de notáveis remunerados e fingindo prestar serviço à Nação, em conselhos que se reúnem uma vez ou outra em suntuosos convescotes, que a elevada carga de tributos se nos apresenta sem qualquer correspondência, por exemplo, com a penúria em que vive o povo nas filas da assistência pública de saúde, onde o Estado ensina (e patrocina) a violência, ao materializar a idéia de que uma vida não vale nada.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

09 julho 2009

Sobre os livros “Jardim de Corpos”
e “Duducha e o CD de Mortadela”

Por REGINA MORELO

Falar da obra de Carlos Lúcio Gontijo exige-nos um reajuste na cadência das batidas do nosso coração, para que possamos pulsar sintonizados com a sensibilidade deste autor, que vem nos encantando, cada vez mais, em cada obra publicada.
Tive o privilégio de leitura do romance "Jardim de Corpos" e da obra infantil "Duducha e o CD de Mortadela". O autor dá um enorme salto do mundo adulto para uma infância – à qual ele revisita –, motivado pela existência de sua neta Luara, verdadeira jóia em formação na família Gontijo.
"Jardim de Corpos" enfatiza, com muita sabedoria, a temporalidade da vida, a necessidade do amor ao próximo e a urgência da luta pela inserção social, pois, segundo o autor,"é sabendo de onde viemos, que podemos medir o quanto andamos e decidir para onde vamos".
Carlos Lúcio esbanja poemas de beleza rara, em forma de portais que se abrem a cada capítulo. Os personagens que compõem o romance nos mostram as várias faces do mundo em que vivemos, dos problemas que vêm tornando difícil a convivência pacífica entre as pessoas, "nesse mar de carências, escassos de canoas solidárias".
“Jardim de Corpos”, esta obra primorosa composta por mais de 300 páginas, nos leva a rever valores, tais como: o amor pela família, a união de amigos em prol da ajuda humanitária, a importância de notícias verdadeiras pelas quais os meios de comunicação são altamente responsáveis.
"Jardim de Corpos" é visita obrigatória para os nossos olhos. Saboreiem, caros leitores, em cada uma de suas páginas, esse prato nutritivo de que tanto necessitamos para a nossa saúde literária. Analise cada personagem. Neles, podemos achar traços de nossas próprias vivências, bem como encontrar algum caminho que o nosso mapa ainda não conseguiu nos mostrar.
Regina Morelo
Professora, poeta, escritora

02 julho 2009

28 maio 2009

Retalhos de mim

Carlos Lúcio Gontijo


A grande realidade é que, apesar das muitas pedras no caminho, conseguimos avançar e, bem ou mal, construímos uma obra literária que, no dia 20 de junho, às 18 horas, em noite de autógrafos na Associação Mineira de Imprensa (AMI), entidade presidida pelo amigo Wilson Miranda, chegará aos 13 livros, com os lançamentos do romance “Jardim de corpos” e da obra infantil “Duducha e o CD de mortadela”.
Todavia, mesmo nos considerando vitoriosos, não podemos nos esquecer nem deixar de apontar o abandono em que se encontra a atividade literária no Brasil, onde as editoras se contentam em disputar a indicação de livros para aquisição pelo governo e o consequente encaminhamento às escolas, alugar selos a escritores independentes (e idealistas) e, ao mesmo tempo, editar best-sellers ou alguma narração de valor duvidoso de gente famosa e mesmo confidências pornográficas de alcova. Enfim, isso tudo somado ao reduzido estoque de leitores e à inexistência de política de apoio cultural, que foi entregue aos humores e interesses comerciais de poucas empresas patrocinadoras, cuja visão se prende a produto de mais fácil aceitação popular ou capaz de atrair os holofotes da mídia, redunda em quadro amplamente inibidor à produção de livros.
Dessa forma, temos escritores com mais de 50/60 anos que, pelo ineditismo e falta de divulgação, são jovens dentro do mundo literário, jogando por terra e tirando a seriedade de qualquer projeto que tome como novo autor aquele que ainda não passou dos 30 anos, uma vez que a cronologia na injusta área da criação não pode ser medida pela idade do escritor, que muitas vezes só consegue editar sua arte no vigor da maturidade.
Não raro, os poetas e escritores não obtêm apoio no meio em que vivem, pois a cultura de trabalhar pela desvalorização da proximidade campeia entre nós feito erva daninha em lavoura malcuidada, como se apenas as especiarias artísticas de além-mar e outras plagas tivessem significado e conteúdo . Tal procedimento errôneo dificulta a criação do hábito de leitura, que tem seu nascedouro na infância e na adolescência, uma vez que, ao menosprezar os autores que lhe são próximos, as comunidades não facilitam a presença de poetas e escritores em suas unidades escolares e, assim, passam aos estudantes a falsa imagem de que os que escrevem são pessoas superiores e completamente diferentes de todas as demais – não havendo, portanto, qualquer estímulo que leve os alunos aos livros, já que as primeiras leituras cobram proximidade de linguagem, usos e costumes.
Para terminar, deixamos ao sopé o testemunho de Aldivo Mazzini, um escriba de sensibilidade, excelente poeta sul-mato-grossense de Dourados, que nos foi enviado por e-mail e que serviria para explicar a trajetória de autores independentes como nós, Harildo Norberto Ferreira, os gêmeos Leosino e Leonildo Miranda Araújo, João Silva de Souza, Regina Morelo, Sebastião Henriques e tantos outros: “Se tenho livro publicado (Retalhos de mim), saiu do meu próprio bolso. Assim, tantas outras obras produzidas podem ter como destino as gavetas. E, automaticamente, o esquecimento, porque, com raras exceções, alguém no futuro irá apanhar tudo isto e procurará fazer uma análise que seja. Perde-se, com certeza, uma bagagem muito grande de obras espalhadas por este país gigante”.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

18 maio 2009

De Bueno de Rivera ao Poetas del Mundo

Carlos Lúcio Gontijo


Bueno de Rivera, um dos grandes poetas de língua portuguesa e, por isso, merecidamente reverenciado em qualquer lugar onde o assunto seja a poesia maiúscula, é o maior dos seres humanos nascidos em Santo Antônio do Monte, cidade localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais e da qual vim para Belo Horizonte a fim de dar prosseguimento aos meus estudos. Já cursava jornalismo quando procurei o poeta Bueno de Rivera, do qual muitos se lembram por causa do Guia Rivera, uma publicação que registrava o ponto e o trajeto dos ônibus coletivos que serviam aos bairros da capital mineira. Fui recebido com afeto pelo poeta de voz firme e marcante de locutor de rádio – uma atividade que também exerceu em sua vida – e, no final do encontro, saí com a promessa de um prefácio para o meu segundo livro de poemas (Leite e Lua), cujos originais com ele deixei.
Passados alguns dias, recebi um telefonema dizendo que o prefácio estava pronto e que eu poderia buscá-lo. Bueno de Rivera me recebeu, mais uma vez, com alegria e clara satisfação no rosto, afirmando-me que sua alma estava em festa por estar diante de um poeta com origem em sua terra. Falou-me de meu potencial e aconselhou-me a lapidar o dom com que havia nascido, pois se eu não encontrasse o meu estilo, não importando se bom ou ruim, eu seria apenas mais um poeta neste mundo. E comparou: “é mais ou menos como um bom arquiteto que não ousa traçado novo e seu”.
O certo é que saí dali disposto a editar meu “Leite e Lua”, mas a iniciar a busca de uma maneira de expressar com alguma característica literária que fosse minha. Era o ano de 1977 e eu só voltei a editar em 1987 (Cio de Vento), depois de debruçar nas janelas da procura de uma forma de escrever que tivesse um jeito que fosse meu. Durante todo aquele tempo, soavam aos meus ouvidos os conselhos de Rivera: “Vá escrevendo, fazendo sua carreira literária e, quando deparar com livro seu nas prateleiras de algum sebo, você poderá se considerar, no mínimo, vitorioso”.
Hoje, digito meu nome no Google e me deparo com livros de minha autoria expostos em sebos e me recordo do incomparável poeta Bueno de Rivera. Como é duro o exercício da arte de escrever no Brasil, onde a lei de incentivo à cultura fica na dependência final dos humores do setor empresarial e onde os custos gráficos são verdadeiro desplante. Aqui, o autor paga para editar e, se vai remeter, em gesto de doação e idealismo, um exemplar de seu livro pelo Correio, ele não encontra qualquer benefício à sua disposição. Ou seja, paga por sua vocação de forma literalmente injusta.

A poesia só caminha em solo brasileiro graças ao apoio de pessoas e entidades sensíveis, que compreendem a sua importância na sensibilização da sociedade, que quanto menos despoetizada mais violenta se nos apresenta. Há algum tempo, fui convidado por Sandra Fayad, poeta e escritora residente em Brasília, a integrar o movimento internacional “Poetas del Mundo”. E, dessa forma, tive contato com a poetiza Clevane Pessoa, uma das líderes, em Minas Gerais , da entidade que mantém um gigantesco e prestigiado site no ar, com poetas de todas as regiões do planeta Terra. Clevane, além de estar à frente do comando do movimento, recebendo com extremo senso de igualdade a todos que a procuram, põe-se à frente do evento “Paz e Poesia”, que, pelo segundo ano consecutivo, em Belo Horizonte , inundou a Feira de Artesanato e a avenida Afonso Pena de poemas e livros, que são entregues aos feirantes, num trabalho de cunho cultural que devia merecer a cobertura da mídia mineira tão provincianamente dadivosa quando se trata de iniciativa apresentada por gente de outras plagas.
Acredito que, se Deus carrega o Universo nos braços, a poesia Ele leva em Suas mãos. Por isso, creio também que todos aqueles, que – como a poetisa Clevane – se dedicam à divulgação da arte poética aliviam o peso depositado nas mãos de Deus e, ao mesmo tempo, enchem de esperança o espírito de escultores e artífices da palavra como o poeta santo-antoniense Bueno de Rivera.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

05 maio 2009

A poesia tem força de prece

Carlos Lúcio Gontijo

À medida que se aproxima o momento de lançamento de nossos livros (o romance “Jardim de Corpos” e a obra infantil “Duducha e o CD de Mortadela”, dia 20 de junho, às 18h, na Associação Mineira de Imprensa, à Rua da Bahia, 1.450), vislumbramos com mais tristeza ainda a enorme dificuldade enfrentada pelos que, levados pelo dom da palavra ou da sensibilidade poética, procuram imprimir suas obras literárias no Brasil, onde muita gente remunerada há cuidando do setor cultural, mas poucos representantes públicos constituídos realmente interessados na questão. A dura realidade é que são em pequeno número as editoras que ousam investir em autores novos e o que temos são gráficas que alugam seus selos a autores idealistas que fazem das tripas coração para arcar com o alto custo da impressão de um livro.
Agentes culturais públicos, tangidos pelo mais completo desconhecimento da atividade literária, chegam a promover a implementação de incentivos e concursos para a área da literatura em busca de novos talentos, sob a visão míope de escaloná-los por faixa etária, como se houvesse uma norma cronológica no fazer literário, que é regido simplesmente por autores conhecidos e desconhecidos.
Prova disso é que, recentemente, um grande amigo nosso, Sebastião Henriques, lançou aos 84 anos o seu primeiro livro. São tantas as dificuldades em torno da edição de uma obra literária que, se bem nos lembramos, tivemos a honra de prefaciar o belo feixe de poesias do “novo autor” – apesar de não ser jovem – há uns seis, oito anos, e só agora o fogaréu de seus versos veio a lume.
Nós mesmos, só nos encaminhamos para o nosso 14º livro, graças ao apoio do pai José Carlos Gontijo e à ajuda de alguns bons amigos, que acreditam na honestidade e na legitimidade de nosso trabalho literário, que estendemos, por meio da doação de livros, a muitos lugares onde não há livrarias ou bibliotecas públicas disponíveis aos cidadãos, como é o caso de zonas rurais, nas quais não encontramos livros de literatura nem nas escolas.
Não faz muito tempo, recebemos e-mail de um universitário que cursa psicologia na PUC/Arcos-MG, confessando que os primeiros livros de literatura aos quais teve acesso foram os que destinamos à escola rural em que estudava em distrito pertencente à cidade de Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas Gerais.
Autores idosos e, no entanto, jovens na atividade literária existem aos montes, com seus escritos entulhando gavetas e ferindo sonhos intelectuais à espera da materialização gráfica que se lhes vai transformando em projeto irrealizável, à medida que o tempo passa para os autores inéditos, que se veem prisioneiros de uma democracia em que o direito de expressão para os escribas menores ou desconhecidos não tem vez , não tem voz nem espaço nos raros jornais que, erudita e glacialmente, cobrem literatura no Brasil.
Acreditamos piamente que o ambiente literário se nos apresenta totalmente desfavorável aos que decidem por editar, como nós, de forma independente. Apenas seguimos em frente lançando livros e disponibilizando-os ao público (com livre acesso) em nosso site, por estarmos na luta há muito tempo – desde 1977 – e por termos em mente que “Da poesia verdadeira não se esquece/ Todo poema tem força de prece/ Se vai desta vida o poeta seu autor/ A poesia no amor do leitor permanece.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

27 abril 2009

a consciencia voadora

A

Carlos Lúcio Gontijo


Fazemos literatura independente desde 1977 e, ao longo dos anos, assistimos à ampliação das dificuldades para a impressão de livros. Os entraves são tantos que nos remetem não apenas à falta de política cultural efetiva (a que temos hoje é vinculada à vontade e idiossincrasias do setor empresarial, que logicamente opta por patrocinar produto intelectual de mais aceitação junto ao público e à mídia, ainda que descartável) e capaz de dar apoio a autores desconhecidos, mas nem por isso desprovidos de valor.
As pedras no caminho da literatura são muitas e se encontram explícitas, claras como a luz do dia, em qualquer região do Brasil de poucos leitores e mais um punhado de gente graúda que finge que lê. Todavia, em Minas Gerais , as montanhas de pedras são bem maiores, pois aqui imperam as igrejinhas literárias e a inexistência de patrocinadores ou qualquer abertura para incentivo ainda que mínimo.
Prova disso podemos demonstrar por meio de fato ocorrido conosco. Premidos por custos quase que intransponíveis para a impressão de dois livros (DUDUCHA E O CD DE MORTADELA e o romance JARDIM DE CORPOS, com lançamento conjunto previsto para o dia 20 de junho, às 18h, na Associação Mineira de Imprensa, em Belo Horizonte ), ousamos incomodar o senhor diretor da Imprensa Oficial, onde em passado recente imprimimos alguns de nossos livros, com pedido de estudo de concessão de pequeno desconto no orçamento que me foi apresentado. Ou seja, não estávamos pedindo nada de graça, mas não obtivemos, lamentavelmente, qualquer resposta e, assim, diante do silêncio da pretensa autoridade, fomos bater em outra freguesia, como nos costumava dizer mãe Betty.
O artifício do silêncio, ao que parece, é a face cultural dos que habitam o solo mineiro. No último feriado de 21 de abril, em Ouro Preto , Tiradentes saiu de seu cadafalso para abrir espaço ao tecer de loas ao “ano da França no Brasil”. Provincianamente zelosa no estender de tapetes a pessoas de outras plagas – desde o período histórico dos juízes de fora –, o governo mineiro se esmerou na promoção de afastamento dos cidadãos ouro-pretanos e visitantes brasileiros, que não foram convidados a participar do evento aberto só aos franceses, para os quais os cantores Milton Nascimento e Bibi Ferreira soltaram a voz.
O povo a que se referiu a fragilizada imprensa mineira não estava lá, pois a cidade foi fechada: proibiram a circulação de veículos e de pedestres ouro-pretanos – moradores de uma cidade que, vira e mexe, serve de palco a convescotes políticos, que mais aprofundam do que sanam as mazelas e as injustiças socioeconômicas contra as quais o mártir Tiradentes tanto lutou. A realidade insofismável é que o povo está fincado na paisagem terrestre, enquanto os políticos brasileiros se acham cada vez mais instalados em palanques (e palácios) distantes ou, literalmente, voando à custa do contribuinte, que, se pagava 1/5 no tempo de Tiradentes, hoje paga 40% do Produto Interno Bruto (PIB) sem receber a necessária contrapartida no tocante à prestação de serviços.
Quanto a nós e outros escritores de menos sorte, só nos resta mesmo irmos bater na porta de outra freguesia mais sensível e ansiosa por voos de alma, de espírito, de união comunitária e de fraternidade, predicados cristãos que dispensam a utilização de cotas aéreas a expensas do erário público para se chegar até eles, mas exigem obediência a princípios morais que há muito bateram asas da consciência voadora de nossos individualistas (e relativistas comportamentais) homens públicos.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

08 abril 2009

03 março 2009

Educação, jornais, livros e leitura


* Carlos Lúcio Gontijo


O português, mais que a língua que falamos, é o veículo responsável pela comunicação entre os brasileiros e, principalmente, fator determinante, na área da educação, dos graus de compreensão e absorção dos conteúdos técnico e acadêmico de todas as disciplinas, transformando-se, assim, no eixo regulador de tudo no campo da intelectualidade e da informação.
Não é à toa, portanto, que os educadores se nos apresentem extremamente preocupados com o fato de alunos de 5ª série não saberem ler nem escrever, demonstrando em suas redações problemas relativos à ortografia, organização lógica de texto e pontuação. Ou seja, os estudantes se nos revelam incapacitados para se comunicarem graficamente, expressando-se de forma desconexa e incompreensível.
Aparente e explicitamente, assistimos à materialização de uma política educacional que foi montada para mostrar resultados estatísticos a curto prazo, chegando mesmo a afirmar, implicitamente, que não há preocupação com o processo de aprendizagem, e sim com os números, que indicam quase o fim da repetência e da reprovação, mas à custa de queda significativa no nível de conhecimento dos alunos.
Em suma, assistimos ao aumento de número de crianças e adolescentes nas escolas, mas visualizamos a triste constatação de que há muitos problemas na formação dos alunos, denotando graves falhas de alfabetização, cuja correção pode levar anos, além de estar colocando em xeque a ideia de se organizarem as escolas em ciclos, anunciada como novidade, apesar de ser discutida desde os anos 1940, quando houve uma reforma educacional na Inglaterra, após o término da Guerra Mundial.
Estranha e extemporaneamente, foi nesse ambiente educacional repleto de emaranhados e imbróglios que o governo brasileiro resolveu propugnar pela reforma ortográfica que mexe com alguns acentos, junta e hifeniza algumas palavras, traduzindo uma visão turva de que, assim, se estaria facilitando a construção de uma pretensa comunidade lusófona (Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, São Tomé, Moçambique, Timor Leste e Guiné-Bissau), quando, ao que se sabe e nos ensina a sociologia, tal panorama se dá, realmente, pela similaridade de usos, costumes e, claro, da língua. Ou seja, fila continuará chamada de bicha em Portugal, apesar da desnecessária reforma ortográfica.
A insofismável realidade é que não há como alicerçar educação sobre o pagamento de tão baixos salários aos professores. Ao nos deparar com o discurso de prioridade para a área educacional proferido pelas autoridades governamentais, somos levados a não acreditar, pois os fatos concretos são estarrecedores. Em Minas Gerais , por exemplo, as bibliotecárias são alocadas no quadro permanente, mesmo diante das promessas (e propagandas institucionais) de valorização da leitura, reconhecidamente indispensável para o aprendizado do aluno. Um contracheque de professora/bibliotecária preste a se aposentar nos prova (e comprova), sem rodeios nem tergiversações, a triste realidade: vencimento básico (344,07); qüinqüênio admin. ec. (34,41); qüinqüênio administrativo (68,81); auxilio transporte (30,60); auxílio refeição (45,00); vantag. temp. incorp. 34,41; Aspemg-mens/contrib. (16,73); Ipsemg assist. médica (20,68); contrib. Prev. Art. 28 (71,08)... E, finalmente, pondo fim à falácia da classe política, pasmem, líquido a receber: R$ 613,31.
Como escritor menor, com 11 obras e trabalhando para o lançamento de dois novos títulos em maio deste ano (o livro infantil DUDUCHA E O CD DE MORTADELA; e o romance JARDIM DE CORPOS), deixo arrebatar-me por desmedida indignação, perante um Estado que se tornou grande demais para cuidar das pequenas demandas do povo e extremamente pequeno para intervir e solucionar os grandes problemas sociais. Por fim, só me resta recorrer a um antigo aforismo de minha autoria e que serve de alerta aos que, metidos em exacerbado individualismo, se utilizam da máquina estatal em proveito próprio, como se contassem com a eterna passividade da população cada vez mais espoliada, empobrecida e desesperada: No palco solidário da arte do amor e da vida em parceria, não há espaço para os que optam pelo egoísmo da carreira solo.
* Carlos Lúcio Gontijo
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/

20 fevereiro 2009

@yahoo.com.br>
Abram alas para a Campanha da Fraternidade

· Carlos Lúcio Gontijo

Muitas vezes, no Brasil, a gente sente que não tem mesmo com quem contar. Ainda agora, quando preparo a edição de dois novos livros, observo que tudo continua difícil e quase intransponível no meio cultural. Se tomarmos como verdadeira a sentença de Rui Barbosa que nos diz que “justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”, temos diante de nós um Poder Judiciário que, além de moroso e lento, contribui decisivamente para a clara percepção de impunidade e consequente eclosão do ovo da serpente da violência generalizada, prejudicando a disseminação do indispensável amor ao próximo apregoado por Jesus Cristo.
Não é mais possível aceitar a tese de que, apesar do péssimo serviço final prestado à população, existam bons homens públicos que, inocentes e involuntariamente, se veem obrigados a estar tão próximos do produto malcheiroso (e correndo a céu aberto) apresentado pelo Poder Legislativo, ao qual o Poder Executivo tem que afagar com mil e uma benesses em nome da governabilidade. É impossível admitir-se a existência de detentores de mandato popular incapazes de se exporem e, deixando de lado o corporativismo, nomear os pares que maculam os trabalhos políticos.
Nada mais intolerável que solicitar à população ou aos meios de comunicação a citação de nomes, quando o próprio produto da classe política denigre a imagem do Congresso e coloca em xeque a sua cara e perdulária existência, uma vez que o Poder Executivo se vê cada vez mais tangido a lançar mão do instrumento da medida provisória, porque não pode esperar, indefinidamente, pelo germinar de idéias e votação de leis oriundas de um núcleo parlamentar que se engalfinha para, ao final do entrevero, eleger lideranças ultrapassadas; velhas e articuladas raposas banhadas no mais obscuro fisiologismo, mas que, descaradamente, ousam se nos apresentar como baluartes do clamor do povo por mudança e renovação.
Voltando a outra assertiva/aforismo de Rui Barbosa, temos que “povo cuja fé se petrificou, é um povo cuja liberdade se perdeu”. A realidade é que assistimos hoje ao avanço de uma sociedade brasileira que cresce economicamente na informalidade, efetivando o desejo político, ideológico e psicológico de se distanciar do mundo burocrático, cartorial e tributário alicerçado por um governo onde a classe política se vê como uma espécie de poder exponencial e concedente da democracia. Ou seja, o regime democrático tem, segundo a opinião dos nobres parlamentares (vereadores também), no Poder Legislativo a razão maior de sua manutenção, esquecendo-se eles de que democracia sem povo é sempre sinônimo de ditadura, pois a unção das urnas não legitima comportamento e atos administrativos totalitários.
A Campanha da Fraternidade lançada pela Igreja Católica este ano tem como título “Fraternidade e Segurança Pública”, sob o lema “A Paz é fruto da Justiça”. A iniciativa vem em momento oportuno, pois evolui o discernimento de que o Estado é agente propagador de violência a partir da lição cotidiana de que uma vida não vale nada: é cidadão morrendo sem atendimento médico na porta de hospitais públicos; é criança e jovem sem lar, sem escola nem oportunidade de trabalho; é a adoção de métodos que retiram elevadas porcentagens dos parcos ganhos percebidos pelos aposentados e pensionistas; é a guerra civil branca encharcando de sangue as ruas do País; é a clara opção dos meios de comunicação pela exaltação ao supérfluo, imoral e desprovido de valor cultural (depois indagam sobre o porquê de tantas crianças e adolescentes grávidas).
Num ambiente assim conflituoso, no qual não há lugar para a prática cristã e humana do fraterno amor ao próximo, todas as relações sociais são progressivamente corroídas e comprometidas. Vejam, por exemplo, o caso do equilíbrio de forças entre o capital e o trabalho. Como explicar que, logo de início, sem qualquer análise mais profunda sobre a crise econômica mundial originária da ganância de gestores financeiros norte-americanos, os trabalhadores brasileiros se deparassem, imediatamente, com o fantasma do desemprego. Foi bastante desalentador vislumbrar tantas lideranças empresariais desejosas em se utilizarem da crise econômica para precarizar (o eufemismo é flexibilizar) as relações de trabalho, a começar pela diminuição de salários, em conformidade com as necessidades do patrão.
Confesso-lhes que não deu para entender tal postura, pois os salários da classe trabalhadora brasileira são reconhecidamente baixos, com raríssimas exceções. Recente pesquisa com aparentes e supostos moradores de rua na Gávea, no Rio de Janeiro, revelou-nos um dado avassalador: mais da metade dos que ali dormiam sob as marquises possuem carteira assinada e família, à qual visitam apenas nos fins de semana, pois não recebem o suficiente para ir em casa e voltar para o trabalho todos os dias. Então, caro leitor, deixo-lhe uma pergunta: onde estão a honestidade e a fraternidade? E, na certeza do silêncio da falta de resposta, recorro a uma oração contrita: Bom é louvar-vos, Senhor, nosso Deus, que nos abrigais à sombra de vossas asas, defendeis e protegeis a todos nós, vossa família, como uma mãe, que cuida e guarda seus filhos. Nesse tempo em que nos chamais à conversão, à esmola, ao jejum, à oração e à penitência, pedimos perdão pela violência e pelo ódio que geram medo e insegurança. Senhor, que a vossa graça venha até nós e transforme nosso coração. Abençoai a vossa Igreja e o vosso povo, para que a Campanha da Fraternidade seja um forte instrumento de conversão. Sejam criadas as condições necessárias para que todos vivamos em segurança, na paz e na justiça que desejais. Amém.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

09 fevereiro 2009

Cada qual no seu castelo

* Carlos Lúcio Gontijo

Enquanto o povo, como nos diz a canção de sucesso e baixo valor musical, permanece cada qual no seu quadrado – que tanto pode ser um barraco três por quatro, uma cova no cemitério ou uma cela, onde a violência e a desigualdade social costumam jogar os cidadãos menos favorecidos –, os abastados festejam sua riqueza nababesca em seus castelos.
O castelo Monalisa, pertencente à família do deputado mineiro Edmar Moreira, agora ex-corregedor da Câmara, é obra construída, entre os anos de 1982 e 1990, nas fraldas cada vez mais insalubres das montanhas de Minas Gerais, que, desde o Ciclo do Ouro, convive com a poluição e o desmatamento provocados pelas atividades de mineração. Ou seja, o castelo provinciano e sem serventia aparente era do conhecimento de todos os que circulam nas hostes políticas.
Estado mediterrâneo e síntese do Brasil, aqui, nas Gerais, não poderíamos ter paisagem social diferente daquela a que assistimos no restante do País. Aliás, o povo mineiro está tão acostumado com a suntuosidade de suas elites que o tal castelo sequer era motivo de admiração, revolta ou esconjuro da vizinhança, que só teve sua atenção chamada após a divulgação de sua existência pela imprensa nacional, mais exatamente de São Paulo, que, pelo visto, está à caça de políticos mineiros com algum desvio de conduta, com o objetivo de enfraquecer a intenção de o governador Aécio Neves sair candidato à Presidência da República pelo PSDB, notoriamente um partido sob o domínio da paulicéia desvairada.
Mais uma vez, um meio de comunicação do eixo Rio-São Paulo, como aconteceu no caso do escândalo do mensalão, que eclodiu nos teares do silêncio mineiro, nos revela mais um desmando, em que um deputado eleito pelo DEM-MG – sigla partidária na qual se abrigam os integrantes do mesmo PFL de antigamente e que, para não perder a face de seu passado, se nos apresenta liderado, na Câmara, pelo ruralista Ronaldo Caiado – , além de ser proprietário de castelo não declarado ao Fisco e à Justiça Eleitoral, deve cerca de 45 milhões ao INSS – um fato mais ou menos comum no meio empresarial brasileiro e, certamente, responsável pelos propalados déficits previdenciários.
Logicamente, para cada castelo que, casualmente, desmorona, outros são erguidos. Não importa o desfecho do caso do deputado do castelo sem reino, pois ao final das contas impera o velho chavão do sabe com quem está falando, freqüentemente repetido por gente graúda pega no contrapé da ilegalidade, da contravenção ou do crime. Na maioria das vezes, os castelos que permeiam as relações sociais não são materializados ou estão à vista como o castelo incrustado em solo mineiro, pois se encontram na simples manifestação de força e poder.
Não faz muito tempo (dia 16 de janeiro), na terra que tem como um de seus expoentes artísticos o cantor e compositor Milton Nascimento, a secretária do vice-governador de Minas Gerais, Marcela Amorim Brant, filha do ex-deputado federal Roberto Brant, foi abordada pelo segurança Antônio Carlos de Lima, funcionário de uma loja na região da Savassi, que lhe solicitou, no cumprimento de sua função, que não estacionasse seu veículo em local proibido, de uso exclusivo da loja. Inesperada e surpreendentemente, recebeu como resposta diversas ofensas e impropérios, em clara prática de preconceito racial.
O imbróglio se transformou em caso de policia. A PM mineira compareceu ao local colhendo depoimentos e o testemunho de quem havia presenciado o fato, encaminhando a secretária do vice-governador e o segurança para a delegacia. Todavia, a secretária resolveu estampar seus ares encastelados e logo os policiais que lavravam a ocorrência passaram a ser pressionados para “aliviar” o boletim de ocorrência sobre o inafiançável crime de racismo. O que ocorreria a seguir vem comprovar que os encastelados no governo se acham acima da lei e são bastante espertos para jamais atirar suas tranças... A notícia saiu no Novojornal – e só! Não teve repercussão, afinal os que habitam castelos raramente são alcançados pelo rigor da lei e, quando o são, não ficam presos ou recebem branda condenação. Então, não sejamos hipócritas e aproveitemos o caso do castelo Monalisa para vislumbrar os inúmeros castelos que nos rodeiam e aos quais a estapafúrdia e megalomaníaca obra do deputado não pode servir de sombra ou escudo protetor.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

02 fevereiro 2009

A ruína da Las Vegas global

· Carlos Lúcio Gontijo


Não é fácil exercer a atividade de articulista nos meios de comunicação brasileiros, pois, para isso, é preciso, além de sua exposição atender aos interesses editoriais da empresa, sua integração a uma inconfessável igrejinha jornalística (parecida com as que existem no campo literário), onde você tem que fingir – alguns acreditam piamente – que faz parte de um grupo seleto de intelectuais formadores de opinião, que interfere ou auxilia a população na propalada e difícil tomada de decisões.
Contudo, na realidade e maioria das vezes, os laureados escribas estão a serviço do corporativismo praticado pelas várias facções ideológicas que detêm o poder e o comando de estruturas alicerçadas em aparente democracia, para assim, por intermédio da unção das urnas do voto obrigatório, melhor imporem sua vontade de cunho ditatorial.
A economia, que hoje mundialmente desanda, encontrou à sua disposição espaço privilegiado nas colunas e editoriais dos meios de comunicação, que foram incapazes de detectar o mau cheiro que exalava das mãos e mentes dos gestores da área financeira, que chafurdavam em ganância e irresponsabilidade social sem limite, como se o mundo fosse uma grande Las Vegas à disposição de sua vocação para o vício da jogatina financeira.
Lamentavelmente, nós – a sociedade – somos inocentes úteis que servem de massa de manobra ao senhorio dos mercados de capital, dos banqueiros e dos políticos, que só dividem com o povo o prejuízo e a derrocada, extraindo para si próprios todo o benefício possível e imaginável nos tempos de bonança. Não há, por tudo isso, qualquer esperança de que ressurja, da crise de crédito por que passa a economia globalizada engendrada pelo neoliberalismo, uma leva de políticos e gestores financeiros mais responsáveis, pois, com toda a certeza, os mecanismos da obsessão pelo ganho fácil serão revitalizados assim que a poeira baixar.
Da mesma forma que assistimos aos banqueiros recorrendo aos cofres públicos para se safar dos resultados advindos de sua administração financeira temerária, os políticos que, no caso brasileiro, fazem do Legislativo um poder inócuo, perdulário e desprovido de mobilização cívica, mesmo em momento de crise como o que ora experimentamos, caem no equívoco de justificar a sua existência na pregação simplista de que, sem ele, não existe democracia.
Todavia, ao se comportar dessa forma, a classe política termina por semear ideias arbitrárias e golpistas e, depois, quando elas se materializam, as lideranças políticas, feito os banqueiros que agora recorrem aos cofres públicos, convocam o povo (a desprezada terceira pessoa, o outro, pois ninguém se sente povo) para lutar pela redemocratização do país.
Dirão alguns que estamos generalizando, porém o nosso desejo é este mesmo. Quando reclamamos, por exemplo, que determinado órgão de imprensa é ruim, não somos obrigados a apontar o nome dos jornalistas responsáveis pelo produto final que chega ao público leitor, ao telespectador, ao ouvinte. Ou seja, como dizia minha mãe Betty, uma mato-grossense que sabia das coisas, ao dono da boiada compete a denominação dos bois. Cabe, enfim, aos políticos que se nos apresentam como honrados e probos o ônus e o desgaste de apontar os pares que desonram a sua classe e a conduzem à má prestação de serviços à população.
Ademais, agremiação partidária que se preze deveria manter em seus quadros apenas políticos merecedores do voto do eleitor, que não pode, de forma alguma, ser responsável pela depuração, ou melhor, pela extração de bom candidato em meio ao lixo que lhe é apresentado como digno de sufrágio.
Em síntese, o que de mais explícito brilha nos horizontes da crise é que, apesar da arrogância, idiossincrasias, caras, bocas e beicinhos encenados por âncoras televisivos contrariados (além de tantos editoriais e artigos embebidos em erudição e pretensa sabedoria publicados por economistas, políticos, jornalistas etc.), ninguém vislumbrou antecipadamente a crise econômica que nos assola, demonstrando que, no âmbito da economia, não é preciso frequentar os cassinos para se fazer parte do jogo – principalmente quando os graúdos e festejados endinheirados perdem. A conclusão inconteste é que, até quando os donos do capital não têm sorte, o azar é nosso.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

15 janeiro 2009

Fluxos de caixa e de sangue

* Carlos Lúcio Gontijo

Há uma inconfessável opção dos meios de comunicação pela prática de exaltação ao supérfluo, ao chocante e aos propagadores de falsa erudição desprovida de mensagem construtiva, levando ao desânimo os que ainda se guiam pelo amor ao próximo e pela valorização de normas morais e comportamentais indispensáveis à convivência em sociedade.
Infelizmente, a área política que maculou a assertiva cristã explicitada na oração do “é dando que se recebe”, colocando literalmente em xeque a prece de São Francisco, vem semeando fato parecido em relação às profecias de Isaías, que, em determinado ponto, nos assinala que “dia virá em que não haverá mais divergências no meu monte santo. O leão e o cordeiro pastarão juntos”.
Parece-nos, claramente, mesmo não sabendo nem podendo separar os bons e os maus parlamentares inscritos nas agremiações partidárias, que os políticos, na hora de somar esforços na luta por alcançar benefícios e materializar interesses particulares ou corporativos, costumam pastar juntos e até projetar uniões e apoios inexplicáveis à luz da razão.
Da nossa parte, não tememos dizer que não há como imaginar, no Brasil, qualquer melhoria significativa no tocante à oferta de serviços públicos mais condizentes com a carga tributária draconiana que pesa sobre o orçamento de todos os brasileiros, punindo as pessoas em seus lares, em seus empregos, em suas empresas e estabelecimentos comerciais. Existe, enfim, uma descabida boa vontade na promoção de privilégios para o setor financeiro em detrimento dos empreendimentos produtivos.
A crise de crédito por que passa o mundo globalizado veio comprovar que, quando há queda de fluxo de caixa nos bancos, a população é convocada a pagar a conta sem dó nem piedade, ainda que para isso seja necessário que a sociedade sangre e perca o seu fluxo de sangue, padecendo na inanição – sem salário digno ou, ainda pior, sem emprego.
Lembramo-nos do período em que havia lei salarial e a classe empresarial ocupava espaço na mídia nacional com o objetivo de protestar e até afirmar que, muitas vezes, o patrão gostaria de dar aumento superior aos índices estipulados pelo governo, mas se via impossibilitado de concretizar sua intenção. Pois bem, a lei salarial foi abolida e o que detectamos no mercado de trabalho é o velho império dos baixos salários e o hábito atávico de dispensar mão-de-obra ao menor sinal de crise na economia, com os operários, sob o jugo dos patrões, se sentindo como palestinos reclusos numa espécie de Gaza indefesa e exposta aos efeitos do saco de maldades com que os gestores das tais leis de mercado os presenteiam.
Não é à toa que assistimos ao aumento da disputa por vagas disponibilizadas pelos concursos públicos, que são tomadas pelo trabalhador brasileiro como a única oportunidade de ele ter uma vida profissional mais segura e distante das ameaças do patrão, que insiste em vê-lo como fonte de despesa e não força de trabalho inserida na formação do capital da empresa.
A conclusão a que chegamos diante de tanto infortúnio que se abate sobre a sociedade brasileira é que o povo precisa deixar de lado diferenças e possíveis desavenças, a fim aprender a pastar unido como o fazem seus algozes do colarinho branco e senhores de capital, canaviais e engenhos do setor produtivo.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo

10 janeiro 2009

O NOME DO EMBAIXADOR É SHULTZ


Laerte Braga


O rei da Espanha paga cinco mil dólares por búfalo caçado e morto numa estação de caças da Suíça. A espécie caçada está em extinção e os suíços tentam mantê-la para o gáudio da nobreza européia.

Os nazi/sionistas de Israel caçam palestinos e não pagam nada. Pelo contrário. Saqueiam terras, bens, estupram mulheres, torturam e não admitem qualquer tipo de censura. São “superiores”. Quem enxerga práticas genocidas nas hordas de assassinos que atacam Gaza “está delirando”.

Com certeza os mais de setecentos palestinos mortos é ficção. Ou os quase três mil feridos. Os prédios derrubados, casas, a infra-estrutura de um povo valente e determinado.

Para os nazi/sionistas, braço do IV Reich – a Casa Branca – tudo isso é só legítima defesa.



O nome do embaixador de Israel na Espanha é qualquer coisa Schultz. Claro. Mengele, Goering, Goebbels, Eichman, qualquer um desses iria sentir-se aprendiz no holocausto ressurreto. Iriam aprender muito.

Frédéric Kanouté, 31 anos, jogador do Sevilha, aparece na foto acima ao lado do brasileiro Luís Fabiano. Kanouté fez um dos gols numa vitória de sua equipe e comemorou manifestando seu protesto contra as horas de Schultz que massacram palestinos.

O jogador nasceu na França, é muçulmano e foi multado em algo em torno de nove mil reais pelo gesto. Não importa. “Era algo que eu sentia que tinha que fazer. Todo mundo deve se sentir um pouco responsável quando há uma injustiça tão grande. Sou cem por cento responsável pelo que fiz.”

Declarações que fez ao canal TELECINCO na Espanha.

Schultz, ao contrário, de tacão e quépi com a suástica/estrela de Davi, criticou o gesto do jogador e louvou a multa aplicada a ele. Foi lacônico nos comentários. Não tem como defender a barbárie nazi/sionista contra palestinos. Não que tenha aparentado vergonha. Nazistas não têm vergonha de serem assassinos. Um certo desconforto, pois sabe que as pessoas no mundo inteiro estão indignadas com o tal “povo eleito”.

A repórter da REDE GLOBO em Israel, Renata Malkes, produziu durante um bom tempo um blog anti-árabe. Com insultos e ofensas ao povo árabe. Serviu o Exército de Israel e agora tentou apagar os vestígios do preconceito sumindo com todo o material do blog.

Em vão. Já está recuperado. A história foi descoberta pelo CLOACA NEWS.
Esse é um dos endereços onde a “imparcialidade racista” da moça pode ser vista. http://web.archive.org/web/20021106133916/balagan.blogspot.com/2002_03_10_balagan_archive.html
A comissária das Nações Unidas para crimes de guerra na Faixa de Gaza afirmou ao jornal inglês THE GUARDIAN, que “o exército de Israel pode ter cometido crimes de guerra na faixa de Gaza”. Navi Pillav disse que soldados do reich nazi/sionista mandaram civis se abrigarem numa casa e em seguida dispararam três projéteis contra o lugar. Mais de vinte dentre os mortos eram crianças.

Fadi Adwan/AP

Imagem mostra vítima do ataque a Zeitoun, na faixa de Gaza, que deixou cerca de 30 palestinos mortos no último dia 4

Quando se noticiou que Joseph Mengele, o célebre médico nazista havia sido encontrado no Brasil e, morto, estava enterrado num cemitério numa cidade paulista, a sociedade de caçadores de criminosos nazistas protestou alegando que Mengele ainda estava vivo.

Os exames periciais provaram que os ossos eram de Mengele mesmo. O xis do problema é que a localização do médico nazista, considerado o principal troféu a ser capturado, atrapalhava a propaganda e a justificativa para barbaridades por baixo dos panos.

Com Mengele morto como iam continuar caçando nazistas? É uma velha prática sionista. Perseguem, matam, mas gostam de vender a idéia de perseguidos.

Esqueceram-se de buscar em Tel Aviv. É só trazer de volta os caçadores de vampiros/sionistas e criminosos nazistas vão ser localizados aos montes em Israel.

Saíram do Gueto de Varsóvia para criar o Gueto de Gaza. Ganharam now how e experiência em atrocidades.

A Cruz Vermelha denuncia que as SS nazi/sionistas estão atirando em voluntários que tentam retirar corpos de palestinos mortos ou feridos nas ruas e impedindo o resgate e o atendimento.

Tudo isso deve ser culpa do Hamas.

O nome do embaixador é Schultz, mas pode ser Mengele. São iguais.

08 janeiro 2009

regras da midia sobre o nazi-sionismo



Doze regras de redação da mídia internacional quando o assunto é o Oriente Médio*1) No Oriente Médio são sempre os Árabes que atacam primeiro e sempre Israel que se defende. Essa defesa chama-se represália.2) Os árabes, palestinos ou libaneses não têm o direito de matar civis. Isso se chama ''terrorismo''.3) Israel tem o direito de matar civis. Isso se chama ''legítima defesa''.4) Quando Israel mata civis em massa, as potências ocidentais pedem que seja mais comedida. Isso se chama ''Reação da Comunidade Internacional''.5) Os palestinos e os libaneses não têm o direito de capturar soldados de Israel dentro de instalações militares com sentinelas e postos de combate. Isso se chama ''Seqüestro de pessoas indefesas.''6) Israel tem o direito de seqüestrar a qualquer hora e em qualquer lugar quantos palestinos e libaneses desejar. Atualmente são mais de dez mil, 300 dos quais são crianças e mil são mulheres. Não é necessária qualquer prova de culpabilidade. Israel tem o direito de manter seqüestrados presos indefinidamente, mesmo que sejam autoridades eleitas democraticamente pelos palestinos. Isso se chama ''Prisão de terroristas''.7) Quando se menciona a palavra ''Hezbollah'', é obrigatória a mesma frase conter a expressão ''apoiado e financiado pela Síria e pelo Irã''.8) Quando se menciona ''Israel'', é proibida qualquer menção à expressão ''apoiada e financiada pelos EUA''. Isso pode dar a impressão de que o conflito é desigual e que Israel não está em perigo de existência.9) Quando se referir a Israel, são proibidas as expressões ''Territórios ocupados'', ''Resoluções da ONU'', ''Violações dos Direitos Humanos'' ou ''Convenção de Genebra''.10) Tanto os palestinos quanto os libaneses são sempre ''covardes'', que se escondem entre a população civil, que ''não os quer''. Se eles dormem em suas casas, com suas famílias, a isso se dá o nome de ''Covardia''. Israel tem o direito de aniquilar com bombas e mísseis os bairros onde eles estão dormindo. Isso se chama Ação Cirúrgica de Alta Precisão''.11) Os israelenses falam melhor o inglês, o francês, o espanhol e o português que os árabes. Por isso eles e os que os apóiam devem ser mais entrevistados e ter mais oportunidades do que os árabes para explicar as presentes Regras de Redação (de 1 a 10) ao grande público. Isso se chama ''Neutralidade jornalística''.12) Todas as pessoas que não estão de acordo com as Regras de Redação acima expostas são ''Terroristas anti-semitas de Alta Periculosidade''.* Texto da jornalista inglesa Mona Baker, do The Translator

07 janeiro 2009

visita que nos honra

Carlos Lúcio:
Visitei o blog do "Manuelzinho". Excelente artigo, não só pela objetividade do conteúdo, como também por retratar a realidade daqueles que gostam e têm talento para escrever. É frustrante a conclusão de uma obra que está fadada a dormir o sono eterno numa gaveta pela falta de recursos.
Os sonhos não realizados deixam o coração da gente em profunda tristeza. Imagino a desilusão da sua amiga, tendo chegado a uma idade avançada sem conseguir repassar a nobreza e a riqueza que brotaram de maneira tão digna. É lamentável!.Isso é Brasil.Abraços.
Regina Morelo
Escritora e professora
Belo Horizonte

A literatura na gaveta

*Carlos Lúcio Gontijo


O GOVERNO brasileiro retirou a carga de impostos que recaía sobre a impressão de livros, e o dólar, responsabilizado pelo alto preço do papel, andou em baixa cotação por muito tempo, mas nada disso conseguiu diminuir os custos de uma edição no Brasil. Os meios de comunicação, quase que de maneira geral, só se lembram de literatura por ocasião de bienais do livro, que não suprem a necessidade de criação de hábito de leitura e amor pelos livros por parte da população brasileira, que nem se dá conta de que os municípios do País dispõem de pouquíssimas livrarias especializadas. Ou seja, o que temos são papelarias, em plena sintonia com uma nação em que, como ocorreu recentemente em Contagem, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, livros de autores como Machado de Assis, Alves de Azevedo e Jorge Amado podem ser encontrados jogados no lixo.
ESTAMOS nos encaminhando para a ampliação de nossa obra literária, com o lançamento de dois novos títulos no transcorrer deste ano, mas continuamos enfrentando e observando as mesmas dificuldades, que colocam a decisão de escrever como apenas um detalhe, que é dependente e sufocado pela falta de editoras dispostas a apostar em autores fora dos holofotes da mídia; a lei de incentivo, que joga o produtor de literatura nas mãos do empresário compromissado, na maioria das vezes, com a projeção de seu negócio e, por isso mesmo, voltado para obras de fácil absorção pelo público ou elaboradas por autores próximos à grande mídia.
JÁ FIZ ao longo dos anos muitos prefácios para livros que jamais saíram da gaveta, numa prova inconteste de que o Brasil, como se vivêssemos em período de exceção e censura, permanece repleto de autores inéditos. No final do ano passado, enviei cartão de Natal para uma amiga a quem não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, a não ser por fotografia e pelo original de um livro de prosa e poesia que ela, gentilmente, me enviou, acompanhado de bilhete solicitando-me um prefácio.
POIS BEM, lisonjeado e com alegria, eu a atendi. Pelo correio, remeti-lhe de volta o material. O tempo passou. A poetisa, hoje octogenária, acaba de nos enviar um cartão com votos de feliz 2009, no qual aproveitou para derramar sua desesperança em um dia imprimir sua obra, situada em patamar, segundo nossa avaliação, bem acima de muita coisa que é editada e badalada Brasil afora. Escreveu-nos ela: “O tempo já levou minhas energias e com elas as armas, os apelos, as ilusões. Meu livro dorme na gaveta em berço esplêndido, como diz o hino nacional. Já me conformei. Aquele prefácio valeu!”
FAZEMOS a absoluta questão de divulgar as palavras de entrega e decepção de uma poetisa legítima em dom e poesia, na esperança de que os altivos e garbosos ocupantes de cargos públicos vinculados à cultura deixem de se nos apresentar como intelectuais superiores e baixem os seus olhos para os autores menores, que, parafraseando a canção, salpicam o chão do Brasil de palavras – estrelas que não são contempladas com o sonhado céu da impressão em papel, pelo simples fato de não existir política cultural no País; a não ser para os notórios e renomados, que, monotonamente, se revezam nas manchetes estampadas pelos entediados e distantes cadernos de cultura editados pelos jornais brasileiros.