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05 dezembro 2007

“As coisas antigas, essas ficarão”
A ação do tempo na fotografia de Emmanuel Rabelo Jr
Márcio Almeida*

Cientista social formado pelo INESP, ex-professor de História e Geografia de 2º grau no Polivalente, Escola de Comércio e Pinheiro Campos, Emmanuel ou Manuelzinho descobriu-se fotógrafo e há algum tempo vem produzindo registros peculiares. Ele se justifica: Optei pela fotografia em razão de algumas frustrações: por não ser artista, ter péssima voz, não tocar nenhum instrumento musical, não ser um artesão das palavras, mesmo gostando de Literatura”
Referências fotografias: Dois fotógrafos, basicamente: Ernesto Veloso, pelo insólito de suas imagens, e Sebastião Salgado, pelas reportagens de denúncias da desigualdade social no mundo. É o mestre da fotografia contemporânea.
Manuelzinho usa uma Kodak digital 4 mp. Suas fotos, em p&b ou a cores, privilegiam o registro da ação do tempo sobre imóveis – casas, murros, fachadas, fendas, rachaduras, de que extrai um lirismo realista sobre a construção humana sobretudo urbana. Temos uma bela arquitetura em Oliveira, pontua o fotógrafo, desde o casario colonial, duas igrejas tardo-barrocas até obras pós-modernas. Tudo isso é fonte perene de registro para um fotógrafo. Venho registrando a beleza dos prédios, a destruição pelo tempo e pelo descaso de muitos proprietários. O exemplo maior é o antigo Palácio das Águias, hoje ruínas das águias.
Seu conceito de fotografia é típico de um profissional que usa o talento para obter experiência: A fotografia é sempre importante por perpetuar o tempo. É a imagem de um momento único resgatada para a história.
Essa concepção de registro imanente das coisas está presente em fotos de escadas que expõem “poses”, muros-escombros cuja feiúra remete o olhar para imaginar a beleza original antes do tempo morder o segredo dos adobes desvelados; de trilhos férreos que parecem não levar a lugar algum;de ipês tecendo um tapete áureo e fugaz no jardim da praça do hospital; de um rei perpétuo do Rosário absorto em sua tradição e fé religiosa. Não há simulacro nas fotos manuelinas; não há máscaras de filtros ou arranjos químicos e da fotogenia de massa. Nelas as coisas são o que são. A máquina fotográfica é apenas o instrumento para perenizar o tempo onde escorrem por muitas e muitas décadas fios de Sol, chuvas escorreitas, ventos diamanteiros, colas de cartazes, mijos bêbedos, capins, bichos de parede e olhares indiferentes.
Márcio Almeida é jornalista, professor universitário, poeta e apaixonado com fotografia.

11 novembro 2007

por que nao te calas?

07 novembro 2007

a derrocada da Europa,

por marcio Almeida


Meu caro Manuel,Walter Laqueur tem razão de analisar como assustadora a atual situação da Europa. Ela vai piorar. E muito. A complacência européia permitiu que nas últimas quatro décadas houvesse uma invasão dos seus países agregada à senilidade sedutora que exerce o Velho Mundo. A Europa quis ficar velha. Eis a questão. Lá, as tradições são componentes do modus operandi e do modus vivendi dos povos que parecem não ter aprendido nada com a História. Nem parece que da Europa veio a Revolução Francesa. O Iluminismo. A Revolução Industrial. As modas da moda. A Filosofia moderna e pós-moderna. Os Beatles. As sementes teóricas do capitalismo. As principais tendências políticas. As duas Grandes Guerras. A miscigenação euro-asiática vai culminar numa Babel pós-moderna arrebatadora de um boom negativo para os europeus com gens de origens. A Europa recusou-se a se reorganizar geneticamente, a ter uma nova geopolítica, a repovoar seu continente. Os povos asiáticos que hoje vivem sobretudo na Inglaterra, França, Itália, et al, trouxeram consigo sua fanaticidade orgânica na religião, na cultura, dos costumes que agora impõem a uma população despreparada para dar o salto qualitativo de vida. A bem da verdade, não há vida na Europa. Respira-se ali o mofo secular de antanhas referências, vendidas sob o prisma de turismo. Nenhum país do planeta atrai mais curiosos do que os da Europa. Não li o livro de Laquer mas posso antever a derrocada da Europa: todo o continente sendo pulverizado de vez pelas traças étnicas admitidas em seu solo sedimentado em sangue, tragédia, escândalo e princípios universais reverenciados por nós outros. Lamentável. Porque o que levam as levas de emigrantes é proporcionalmente inferior - e muito - à História de barbárie e civilização demandada dos muitos milhares de anos sofridos dos povos navegantes, dos povos construtores, dos povos pensantes, dos povos inventores de um mundo novo. Por analogia, temo, também, por um processo semelhante ocorrente no Brasil, aqui, em razão da falta de água no mundo, da falta de espaço habitável, de componentes renováveis. Há que perguntar: por que AINDA o mundo não descobriu o Brasil? E quando isso ocorrer, a que nível chegará a devassa sócio-econômica, num país-continente de breve história e propenso, desde a origem, a uma fácil adaptação a circunstâncias as mais torpes, a exemplo do que hoje vivemos sob a égide dos bandidos de Brasília? Como deter os milhões de asiáticos prontos para invadir terras estranhas, após o longo ciclo de nomadismo a que foram submetidos?Autores como Homi Bhabha, Edward Said, Khaled Hosseini, Derek Walcott, entre outros, têm, por experiência própria, advertências bem fundamentadas para fazer ao Ocidente. E, de todos, a lição sempre viçosa de Gaston Bachelard: "O sangue nunca é feliz."Abraço, meu caro.


* Maecio Almeida é poeta , Jornalista, professor e pos graduado em Ciencias dasReligioes e ecreve com regularidade nesse blog

27 outubro 2007

belo show

Partido alto, "Do Morro ao Asfalto"É no balango dango do gingado da morena, no repique do tamborim, nobatuque do surdão que o samba pega fogo. Mesa de tira-gosto, "breja"gelada e repertório de bom gosto compõem o cenário a céu aberto doevento que promete unir morro e asfalto, centro e periferia, chinelo esalto.Idealizado pelo músico mineiro Dudu Nicácio, o projeto "Do Morro aoAsfalto" resgata o samba de raiz e propõe a troca entre músicosexperientes e a própria comunidade. Enquanto Mestre Jonas dá o tom,Aline Calixto solta a voz e Renegado entoa a rima. Pra completar o"zum zum zum"; vídeo-instalações, exposições e muita interação entregente disposta a cair no samba, dão um toque mais que cultural à festaque não tem hora pra acabar.A proposta é estimular um intercâmbio entre a favela e a cidadeatravés da música; vertente artística que agrada a gregos e troianos.Pra não deixar por menos, o gênero escolhido para ser o "unificador"social foi o samba. Exemplar brasileiro característico, recentementeenquadrado na categoria de patrimônio histórico cultural imaterial,tem cara do morro, mas, a cada dia que passa, ocupa espaço em bares ecasas noturnas da zona sul. E por que não unir o útil ao agradável?No Alto Vera Cruz, na Serra ou no Acaba Mundo quem não "manda" umviolão de sete cordas, arrisca o tamborim. Branco ou preto, novo ouvelho, rico ou pobre, todo mundo é bem vindo. E olha que o repertóriovem bem recheado. Cartola, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola sãosó alguns dos clássicos tocados no sambão. Noel Rosa, que, em suaépoca, também contribuiu na legitimação do samba de morro no mundo dosbrancos, não foi esquecido.Depois de duas edições bem sucedidas, agora é a vez de "se acabar" no
na Praça Carioca (atrás da Praça JK). As atrações? Dois do Samba e\u003cbr /\>Solange do Cartola, Miguel dos Anjos, D. Ana Elisa, Copo Lagoinha,\u003cbr /\>Domingos do Cavaco e Dóris. No evento, os grupos "Retalhos da Vila" e\u003cbr /\>"Itai" farão exposições artísticas. A entrada é gratuita.\u003cbr /\>\u003cbr /\>Brisa Marques\u003cbr /\>\u003ca //-->(["ce"]);
samba do Acaba Mundo, que acontece às 16hs, no próximo dia 27, sábado,na Praça Carioca (atrás da Praça JK). As atrações? Dois do Samba eSolange do Cartola, Miguel dos Anjos, D. Ana Elisa, Copo Lagoinha,Domingos do Cavaco e Dóris. No evento, os grupos "Retalhos da Vila" e"Itai" farão exposições artísticas. A entrada é gratuita.Brisa Marqueswww.obinoculo.com.br

23 outubro 2007

DEMOLINDO A HISTÓRIA

r tchá soares

Há pouco tempo produzi um documentário sobre a história da economia de Oliveira. Com esse trabalho pude descobrir muita coisa que não sabia. Uma delas é que a cidade já teve três fábricas de cerveja, e chegou a exportar 80 mil garrafas por ano.
Todas as descobertas me deixaram surpresos, porém, ao mesmo tempo, me acrescentou um problema: Um produto de audiovisual precisa ter áudio e imagens. A questão era: Como ilustraria um texto que fala de fábricas e pontos comerciais, dos quais, muitos já não existiam mais. Para alguns casos consegui fotos ou usei imagens de produtos ou objetos que remetiam aos tais ofícios, mas, em outros, não havia nada que pudesse referenciá-los.
Pesquisando a localização desses comércios, descobri que muitos tinham deixado de existir, mas a casa ou o prédio onde eles funcionaram, não. Assim consegui resolver o problema: Com imagens dos casarões antigos de Oliveira pude dar uma referência dos pontos comerciais que ali se estabeleceram, remetendo o espectador para a época em que eles existiram.
O patrimônio histórico de Oliveira carrega a nossa história. Fábricas, bares, mercearias, alfaiates, fotógrafos e barbeiros, passaram, mas a história esta enraizada. Graças às ações de pessoas que lutaram pela conservação desse patrimônio, pude contar, através dele, a história da nossa economia. Esse pensamento prevalece também nos países mais desenvolvidos da Europa e do Oriente, mas, ao que parece, por aqui, não.
Esta semana, infelizmente, vi mais uma casa de valor histórico ser demolida na cidade. Uma construção de 1930 que trazia detalhes arquitetônicos próprios do seu tempo. Um estilo que remetia para a época áurea da estrada de ferro e da Praça da Estação. Não sou saudosista, mas valho-me das raízes para crescer com solidez. Lembro-me que ali, anexo àquela casa, havia uma vendinha onde levava café para moer. Quando descia para as minhas aulas no Francisco Fernandes sempre passava lá para compra balas “Banda”. Certa vez eu e meu amigo Pepê voltávamos do grupo e vimos um menino que sempre ficava na porta da vendinha para insultar-nos. Nesse dia resolvemos dar-lhe uma lição, mas o seu Zé apartou a briga e nos fez pegar na mão um do outro, depois nos tornamos grandes amigos. Toda vez que passo por ali me lembro desse fato. Mas agora está tudo acabado. Destruíram a minha referência histórica e creio que a de muita gente.
Vi uma foto em que aparece uma locomotiva, em primeiro plano, estacionada onde hoje é o hospital de Oliveira e, ao fundo, a casa que acabaram de demolir. Assim como a vendinha do seu Zé, havia vários outros armazéns no entorno da estação, e que hoje são referências daquela época. Isso é história. História é cultura. E cultura é a alma, é a identidade de um povo. Estão demolindo a nossa história, destruindo a nossa cultura, e nos deixando sem identidade. O pior é que indiretamente participei dessa decisão, porque fazia parte do conselho que votou pela demolição. Votei contra, é claro, mas vi colegas votarem a favor. Fiquei de queixo caído. Como pode um Conselho de Patrimônio Cultural votar pela demolição de um bem histórico?
Procurei não me influenciar pelo apreço que tinha por aquela casa ou pela noção de história da arte, de estética e de outros conhecimentos que adquiri no curso de arquitetura. Votei pela avaliação que me trazia um laudo desenvolvido por um arquiteto e por um historiador, credenciados pelo IEPHA. Argumentei durante a reunião que, como leigos, deveríamos nos apegar a esse laudo. Não podíamos tomar uma decisão importante dessa baseada na opinião subjetiva de cada um. O imóvel foi inventariado, e segundo os técnicos, possui valor histórico e arquitetônico, e comunga com as construções do seu entorno. Quem somos nós para contradizer? Será que os membros leigos da irmandade do hospital de Oliveira discordam dos diagnósticos dos médicos e mandam trocar os remédios dos pacientes?
Algumas coisas foram ditas, na imprensa, por colegas que eu respeito muito, mas tenho que discordar: Uma delas diz que não se pode limitar o direito de propriedade em nome do interesse público. Ora, o direito de propriedade tem que ser respeitado, mas é lógico que o interesse público prevalece sobre interesse individual. E é claro que o valor histórico torna o bem de interesse público. Em outra, um membro do conselho disse ter lamentado que isso tenha vazado para a população. Meu Deus, mas o conselho está ali representando o povo de Oliveira e qualquer decisão tomada por ele deve ser pública! Esse mesmo conselheiro afirmou que a grande maioria votou pela demolição. Mas que grande maioria é essa, já que participaram da reunião dez pessoas, das quais cinco eram contra, e cinco a favor. Um membro do conselho que era contra a demolição teve que substituir o presidente, por isso perdeu o direito de voto, dando, portanto, a vitória para os que eram a favor. O engraçado é que cinco pessoas votaram pela demolição e dez se desligaram do conselho por não concordar com a decisão.
Penso que em momentos como esses é preciso deixar de lado as relações, sejam elas comerciais, de amizade, ou de interesses econômicos, porque o que está em jogo é a nossa história, a nossa cultura, a nossa identidade. Quando os netos e bisnetos forem catalogar a vendinha do Seu Zé ou a casa que ali existia, como parte do trabalho que a professora de história pediu, nós não estaremos mais aqui, nem os nossos amigos, nem os nossos clientes. Mas o nosso erro ficará. Assim como ficou o da demolição do Teatro Municipal e de tantos outros casarões que já se foram.
Se persistirmos nesse erro, acabaremos condenados pela própria história ao legar para o futuro um deserto ecológico e cultural a um povo carente de algo que os identifique.

Luciano Soares

* Confira outros textos de Luciano Soares no blog: www.imagemeletra.blogspot.com

20 outubro 2007

perguntar nao ofende!!

que a Globo nos esplique :
Perguntar não ofendeA nota abaixo é da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo:NOVO ENDEREÇO - A jornalista Miriam Dutra, da TV Globo, deixou Barcelona depois de 11 anos na cidade. Ela foi transferida para Londres, onde passa a integrar a equipe de Marcos Losekan, chefe do escritório da Globo na cidade.A pergunta que não quer calar é simples: alguém sabe qual foi a última matéria realizada pela jornalista para algum dos telejornais da TV Globo?Para quem não sabe, Miriam Dutra é mãe de um menino chamado Tomás. O pai dele atende pelo nome de Fernando Henrique Cardoso. A imprensa brasileira achou um horror que Renan Calheiros tenha usado um amigo lobista para pagar a pensão alimentícia de sua filha com Mônica Veloso. Mas nunca deu um pio sobre o caso de FHC. Não é no mínimo esquisito que a TV Globo, uma concessionária de serviço público, pague salários e mantenha uma jornalista no exterior sem que ela realize uma mísera pauta para seus telejornais?Como diria o gaiato, cada um com seus problemas

12 outubro 2007

hasta siempre, Comandante

Hasta Siempre Comandante!


Tch;a Soares


O título acima também dá nome a uma obra prima da música cubana em que o compositor Carlos Puebla homenageia Che Guevara, o médico argentino que se propôs a lutar por um povo que ele nem sequer conhecia.
Ernesto Guevara de la Serna, por obra do destino, conhece, no México, um certo Fidel Castro, que lhe faz um proposta indecorosa: Lançar-se ao Golfo do México rumo a um país desconhecido junto com 81 companheiros para lutar contra mais de três mil homens apoiados militarmente pelos Estados Unidos.
O que um jovem recém-formado em medicina pela Universidade de Buenos Aires poderia dizer diante de uma proposta dessas? A sensatez sugerida pela ordem teórica ditada pelo capitalismo nos levaria a imaginar que ele não aceitaria a proposta. Mas ele disse sim.
Começava ali a epopéia de um homem que mais tarde seria preconizado como o grande tutor da causa revolucionária.
Ao desembarcar em Cuba o exército rebelde foi recebido por um bombardeio aéreo que o faz sofrer grandes baixas. Reduzido a um contingente de 18 soldados feridos e mal armados, o grupo marcha para a legendária Sierra Maestra onde daria início a batalha de Davi contra Golias. Aqueles jovens idealistas começavam ali o que se chamou de “A revolução impossível”. Foi dada a partida para a mais romântica das empreitadas da esquerda latino-americana. Começava a Revolução Cubana.
- Mas, por que ele disse sim?
Essa é a indagação pairou sobre as mentes de muitas pessoas que não o conheciam mais profundamente. – Mas o que diria o filho de uma família que via permanentemente a mesa de jantar rodeada de meninos pobres, fiéis escudeiros do filho mais velho. O que poderia dizer um médico recém-formado que ignora a possibilidade de adquirir automóveis importados e mansões. Que parti em busca dos mais recônditos leprosários para trabalhar a troco de cama e comida? Qual resposta poderia dar um aventureiro que da garupa de uma motocicleta conhece toda a miséria e toda a sorte de exploração que possa recair sobre um povo que vive à sombra de um império? Como poderia reagir uma pessoa que se alimentava ideologicamente da indignação de ver um ser humano ser explorado por outro.
- Quem o conhecia tinha plena convicção de que aquele jovem se lançaria sem pensar em uma luta cuja causa era tudo aquilo que lhe serviu de alimento enquanto construía o próprio caráter. Não havia para ele outra resposta se não dizer sim a uma proposta que lhe tiraria da posição de observador para assumir a função de modificador de uma ordem pré-estabelecida. Era chegada, portanto, a hora de cumprir aquilo que bradou seu comandante: “Em 1956 seremos livres ou seremos mártires”.
Quer saber o final dessa história? Eles se tornaram livres. O impossível aconteceu. Davi venceu Golias. Aqueles 18 soldados que iniciaram a luta contra os três mil, venceram. A Revolução triunfou. Como dizia Che Guevara: “O extraordinário virou cotidiano”.
Ao aceitar a proposta de Fidel Castro, Che desafiou a Grande Potência do Norte que há décadas dominava econômica e politicamente a ilha. Venceram, expulsaram os americanos e deram um “mau exemplo” para toda a América Latina.
É isso o que esbraveja a velha e resignada elite burguesa, doutrinada aos moldes do capitalismo. É essa verdade que certa revista brasileira e a mídia neoliberal desejam subverter. É esse exemplo que pasquins a serviço da classe opressora desejam apagar. Depois da malfadada campanha contra o MST, contra as ONG’s e contra todo e qualquer movimento social, eis que a revista Veja vem tentar subverter a verdade histórica, mas dá um tiro no próprio pé: Na passagem dos 40 anos da morte de Che Guevara ela diz: “Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos(...)”. Há dez anos atrás, no 30º aniversário da morte de Che, a revista tinha outra opinião: “Che Guevara (...) era bonito, destemido e morreu jovem, defendendo conceitos igualmente jovens, como a solidariedade e a justiça social”.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre classificou Che como “o mais completo ser humano da nossa era”. Como escreveu Pablo Neruda, o poeta preferido de Guevara: "Podem matar as flores, mas, jamais acabarão com a Primavera".manel-rabelo@pop.com.br escreveu:
> A turma do Azeredo está suja como pau de

02 outubro 2007

SAIAM DA CASA DO POVO

lUCIANO *tchá* SOÁRES
Saiam da casa do povo!
Vocês não são dignos de ocupá-la

“Minha absolvição pelo plenário do Senado é uma vitória da democracia brasileira. Uma vitória de todos os que continuam acreditando na verdade e no sentido de justiça; uma vitória do Senado, que comprovou, através do voto, sua isenção e responsabilidade”. Esta afirmação é de Renan Calheiros, publicada em seu site dias após a sua absolvição.”.
“Uma vitória da democracia”, nisso eu concordo em número, gênero e grau. Para uma democracia como a nossa que premia os desonestos, isso só pode representar uma vitória mesmo.
Acontecimentos como esses cada vez mais vêm confirmar aquilo que eu já tinha plena convicção: Inocente aquele que ainda acredita que vivemos numa democracia.
No Brasil, se você quiser que seu filho tenha uma boa educação tem que pagar uma escola particular. Se você quiser ter um bom atendimento médico tem que pagar caro por um plano de saúde particular. Se você quiser ter acesso a uma estrutura esportiva tem que pagar um clube que a ofereça. Se você quiser viajar tem que pagar dois ou três pedágios, dependendo do lugar para onde você vá. Se você quiser ter uma moradia tem que entrar num daqueles financiamentos que se perdem de vista, correndo o risco de não conseguir pagar ou de não ver seu imóvel entregue. As casas são dotadas de grades, muros e cercas elétricas. Isso é liberdade? Seqüestra-se, rouba-se e mata-se a cada minuto. O trabalhador sai de casa cedo, enfrenta greve de ônibus, chega atrasado no serviço, é demitido, e quando volta para casa encontra o filho morto por bala partida. Isso é justo? Aqui existem milhares de pessoas passando fome, sem ter onde morar, crianças órfãs se drogando, prostituindo e aprendendo a assaltar nas ruas. Isso é democracia? Um país que obriga as pessoas a votar, a trabalharem nas eleições, a alistar-se em serviços militares, é um país democrático? Deixamos de ser um Estado paternalista e criamos um Estado carrasco do seu povo.
Sejamos realistas. Vivemos uma ditadura disfarçada de democracia. A ditadura do poder, a ditadura da corrupção. Votamos nesses caras sem saber que eles fizeram suas campanhas usando dinheiro de empresas que posteriormente seriam beneficiadas por eles. Eles praticam corrupção e se absolvem o tempo todo. Engordam suas contas bancárias com dinheiro que poderiam ser aplicados na saúde, educação, moradia, cultura e geração de emprego. Eu, que várias vezes fiz aqui campanha pelo voto consciente, agora cheguei à conclusão de que consciente é aquele que vota em branco. Farei isso. Não quero mais compactuar com esses bandidos. Apesar de ser possível encontrar algumas frutas boas nesse saco de podridão, não vejo mais funcionalidade para o Senado e o Congresso Nacional. Não vejo mais motivo para mantê-los funcionando, porque só trazem prejuízos ao país.
Está nas mãos do Supremo a última cartada contra o mal. O julgamento dos 40 mensaleiros será a última chance de livrar o Brasil do rótulo da impunidade. Independente desse resultado não acredito mais nesse país enquanto Estado. A economia dá sinais de vitalidade, mas a política já assassinou moralmente o país. Com exceção daqueles que, mesmo no poder, insistem em lutar contra a essa banda podre, digo aos senhores deputados e senadores: Vocês não me representam mais. Enquanto cidadão, exijo que se retirem da casa do povo, porque vocês não são dignos de ocupá-la. Se for para gritar sozinho o farei, mas não deixarei de cumprir a minha parte. Não quero mais vocês aí! Ou sairão pelo voto, ou sairão pela força. Creio que esta é a vontade do povo, mas poucos têm esse espaço para falar. Digo por eles. Não quero fazer aqui um discurso inflamado com objetivo panfletário, mas expressar o sentimento de toda uma nação. Vão querer distrair-nos com Big Brothers, novelas e outros lixos midiáticos, mas não conseguirão. É hora de assumirmos nosso sangue latino de revolucionários da justiça e da liberdade



* lUCIANO sOARES É ALUNO DE JORNALISMO NA fadom

28 setembro 2007

reflitam sobre isso

MAS NÃO SE MATAM IDÉIAS*Fidel CastroTempos atrás, olhando quanto será gasto para a construção de três submarinos Astute (submarinos nucleares ingleses, de ataque), eu disse que com esse dinheiro poderiam ser formados 75.000 médicos e ser atendidas 150 milhões de pessoas, supondo ainda que o custo de formar um médico fosse um terço do que custa nos Estados Unidos.Agora, continuando o mesmo cálculo, me pergunto quantos médicos poderiam ser formados com os 100 bilhões de dólares que, em um único ano, caem nas mãos de Bush para seguir cobrindo de luto lares iraquianos e norte-americanos. Resposta: 999.990 médicos, que poderiam atender aos 2 bilhões de pessoas que hoje não recebem atendimento nenhum.Mais de 600.000 pessoas perderam a vida no Iraque e mais de dois milhões viram-se obrigadas a emigrar, desde o início da invasão norte-americana. Nos Estados Unidos mesmo, perto de 50 milhões de pessoas não têm seguro-saúde. A lei cega do mercado rege essa prestação de serviço vital, e os preços se tornam inacessíveis para muitas pessoas mesmo nos países desenvolvidos.Os países menos desenvolvidos e com mais doenças dispõem de menor quantidade de médicos. Quando surgem novas doenças contagiosas como a Aids, que em apenas vinte anos vitimou milhões de pessoas e faz sofrer dezenas de milhões, entre elas muitas mães e crianças, e para a qual já existem paliativos, o preço dos medicamentos por pessoa pode chegar a 5.000, 10.000 ou até 15.000 dólares por ano. São valores inimagináveis para a grande maioria dos países do Terceiro Mundo, onde os poucos hospitais públicos vivem superlotados de doentes, que morrem amontoados como animais quando ocorre uma epidemia imprevista.Talvez, se essas realidades fossem examinadas cuidadosamente, houvesse uma maior compreensão da tragédia. Não se trata de fazer campanhas publicitárias, que requerem muito dinheiro e tecnologia. Some-se à fome de que padecem centenas de milhões de seres humanos a idéia de converter os alimentos em combustíveis, procure-se um símbolo para isso e o resultado será George W. Bush.Perguntado por uma personalidade importante sobre sua política em relação a Cuba, a resposta dele foi: “Sou um presidente linha dura e só estou à espera da morte de Castro”. Os desejos de tão poderoso cavalheiro não constituem nenhum privilégio. Não sou o primeiro nem seria o último que Bush ordenou matar, ou daqueles que ele se propõe continuar matando de maneira individual ou em massa.“As idéias não se matam!”, exclamou Sarría, o tenente negro que comandava a patrulha do exército de Batista que – após nossa tentativa de tomar o Quartel Moncada – nos prendeu quando três de nós dormíamos numa pequena cabana das montanhas, esgotados pelo esforço feito para romper o cerco. Os soldados, cheios de ódio e de adrenalina, apontavam as armas para mim, mesmo sem terem ainda me identificado. “As idéias não se matam”, ficou repetindo automaticamente, já quase em voz baixa, o tenente negro.Dedico-lhe essas magníficas palavras, senhor W. Bush.Fidel Castro Ruz*Publicado em Caros Amigos de setembro
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26 setembro 2007

QUANDO???

Quando os políticos vao dedicar suas vidas públicas, realmente, ao bem comum? Quando nao teremos noticias de roubos, corruptos, perlamentares gazeteiros? Quando teremos a noticia que o dinheiro de nossos tributos será bem aproveitados e que nao há criancas sem escolas e que todas as pessoas estao tendo atendimento médico de qualidade e de imediato?
Quando, nós membro da polis e da cívitas, vamos fiscalizar nossos homens púlicos e quando nao vamos mais eleger os malufs e Calheiros da vida? Quando veremos todo pais de familia saido de casa feliz para o trabalho onde, com dignidade, recebe seu salário?

Quando veremos os nossos bandidos e criminosos cumprindo sua pena e sendo reeducados para a vida na sociedade? Ou qunado nossos juizes serao mais próximos do povo, tendo o cidadao a ser o objetico maior da justica?

Quando a grande mídia, Globo,, Folha de SP, Grupo Abril, sendo honestos ao nos informar e sem deformar a noticiass?
Meus Deus! quero meu povo iinsatisfeito e revoltado por tudo que acontece. Quero o povo cumprindo a lei e obrigando os governantes e as elites a serem exemplo de honestidade, probidade e honrados comportamentos.

16 setembro 2007

ira cívica - carta aos senadores da república

POR camila nicacio*


Aos que prestam cotidianamente um desfavor ao Brasil, Senadores da República,


não imagino que leiam este e-mail. Pergunto-me mesmo o porquê de escrevê-lo. Não encontro muitas razões, mas uma ou duas me vêem à mente de maneira bastante clara.

A primeira é a de que o mais espantoso não é perceber o escárnio e a falta de respeito com que vocês tratam o Povo Brasileiro: o episódio da absolvição deste fascínora chamado Renan Calheiros poderia ter se repetido qualquer que fosse a conjuntura política; o partido atual na Presidência; o clamor popular; a mobilização midiática... Vocês fazem desta maneira independentemente de todos esses fatores. Vocês achincalham a República, as nossas instituições democráticas ainda tão jovens e envergonham o país interna e externamente. Vocês fazem deste modo e talvez precisemos de mais 500 anos de vida política para falarmos em "estado democrático de direito", em que a Nação venha à frente de interesses pessoais e partidários imundos como os seus.

A segunda razão vem do fato de que os trabalhadores deste país - aqueles que se levantam cedo e dormem tarde depois da labuta nas lavouras de cana; todos os leiteiros, jornaleiros, pedreiros, camelôs que vivem a peleja diária pela sobrevivência; todas as mentes criativas e brilhantes que nos honram e nos projetam para além de nossos limites territoriais, valorizando nossa cultura e tradição; todas as lavadeiras, professores e motoristas de ônibus - todos, todos e todos eles vão continuar a viver. Vão continuar a despeito da falta de compromisso, de respeito, de coerência, de hombridade... da falta de tudo o que vocês poderiam significar e são apenas uma nostálgica lembrança.

Enquanto vocês - todos vocês - na medida de sua responsabilidade, por suas ações e omissões, forem compondo página virada na história recente deste país, como mais um espetáculo infame de apropriação do público pelo privado, o Povo Brasileiro vai continuar, parafraseando o poeta, "apesar de vocês".

Com toda a desilusão que é possível mensurar,

Camila Silva Nicácio É ADVOGADA, MESTRE EM Direito pela Unversidade de París, e em
novembro inicia seu curso de doutorado na mesma universidade

04 setembro 2007

Musica da tribo

Por Antonio Veloso*


A antropologia mostra que diversos tipos de instrumentos musicais tiveram sua origem em simbolos sexuais, ou seja, na representacao dos órgaos genitais. Uma das principais funcoes da música na sociedades primitivas era celebrar os rituais de sexo e fertilidade.
De acôrdo com Darwin, a fala humana nao antecedeu a música, mas dela se derivou.O canto,para Darwin, era um dos meios de atracao e "galanteio" com vistas ao acasalamento e a fala só teria vindo depois, como um desenvolvimento disciplinado daquela linguagem sexual, aplicada a comunicacao entre as pessoas.
Assim, a música seria o código de comunicacao sexual por excelência, e a fala nao passaria de um derivado dêsse código, sua versao amenizada para fins de organizacao social.
A música esteve sempre presente em todas as fases da humanidade, acompanhando e refletindo a evolucao da história.É como uma trilha sonora da vida do homem neste planeta, da era das cavernas ao computador e celular.
O que se pode certamente afirmar é que os elementos formais da música, o Som e o Ritmo, sao tao velhos como o homem, inclusie êste é ritmo, no bater do coracao, no ato de respirar, seus passos já organizam um ritmo.E a voz do homem produz o som.
O ritmo se desenvolve mais rápidamente e isso é compreensível pois é êle que une a música, a poesia e a danca
É inconcebível a existência de uma sociedade sem cancoes, mitos ou expressoes poéticas.Por isso a música nao morreu e nunca morrerá
Som e ritmo sao encontráveis em todos os povos primitivos atuais,e sempre o ritmo bastante desenvolvido enquanto o som, geralmente, em estado muito elementar.
Analisemos êsse apêgo dos "primitivos"a uma música pouco melodiosa e predominantemente ritmica: Agindo poderosamente sobre a parte fisíca do ser, o ritmo provoca uma ativacao muito forte do ser biológico total, nao só físico, mas na complexidade maior do seu ser psiquico tambem.
Os primitivos agem mais fisica que mentalmente, a violenta luta pela vida os leva a desenvolver extraordináriamente certas faculdades do corpo: o faro, o tato, os instintos e pressentimentos, faculdades mais distantes da lógica racional-analítico-dedutiva-cartesiana.
Ora, o ritmo interessa muito mais ao corpo que o som.O ritmo "mexe"com a gente.
Outra causa importante, que leva os povos em estado natural a desenvolverem muito pouco a sonorizacao da música, é a fificuldade de criar instrumentos melódicos verdadeiramente ricos. Só dentro da Civilizacao Crista é que o homem conseguiu construir instrumentos como o órgao, o violino, a flauta e o piano atuais.
No geral os instrumentos dos primitivos sao muito pouco melódicos. Dao sonoridades cavernosas, roucas ou produzem apenas ruídos.
Música, entao, predominantemente rítmica, muito pouco melodiosa, socialística, no geral monótona e buscando favorecer, pelo caráter hipnótico, os efeitos mágicos da encantacao.Jamais se libertou da funcao religiosa, mágica e social.Música mágico ritual, guardada com zêlo pelos feiticeiros da tribo.
Como observou R. Lachmann: para o impulso sonoro vocal em si, nao interessa partitura, nao existe o preconceito de afinacao ou desafinacao------ tudo é Som , e sö o Som importa.
Técnicamente a música dos primitivos se define pela repeticao, geralmente em coral, de motivos ritmico-melódicos, tudo dependendo exclusivamente dos levantamentos e repousos de gestos e passos da danca, e principalmente das palavras dos textos cantados.
Músicos, musicólogos, compositores de renome se acercaram das tribos indígenas do Xingu e Amazonas, pesquisando seu acervo musical e com isso enriquecendo seu conhecimento musical e utilizando-o na hora de compor suas próprias cancoes. Dentre êstes podemos citar o maestro Rogério Duprat, o musico Egberto Gismonti e a cantora Marlui Miranda.
Gismonti, que tomou inesquecíveis licoes de música com o índio Sapaim, mestre de flauta do povo yawalapiti, do Xingu, rconhece:
-No comeco, voce se distancia, racionaliza: bom, é uma flauta de recursos limitados, só 4 notas, harmonia primitiva, e tal, ele é um músico primitivo, e tal...Esses papos. Mas de repente, quando você vê aquele homem tocando, e nao consegue separar o músico do instrumento e da música, e percebe como tudo é uma coisa só, una mesmo, como ele se integra completamente no universo, na natureza...fazendo isso naturalmentem enquanto a gentesofre anos a fio nas escolas de música, aí brota uma compreensao muito grande.

Antonio Veloso é cinéfilo e critico Musical e escrevce com regularidade nesse blog

A MIDIA SEMPRE QUIZ GOVERNAR

assunto: Mídia sempre quis governar
Jorge Correa
O movimento de boa parcela da mídia nos recentes episódios envolvendo o governo brasileiro não é novidade para quem tem memória. Não esqueçamos que, na história da República, isso é rotineiro e parece não ter fim. A imprensa brasileira, conservadora e elitista, tem um lado, é parcial e age de acordo com os seus interesses. Sempre aconselho a leitura de dois livros essenciais e reveladores do papel decisivo da mídia nos destinos do País. Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando de Morais, e Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti, são obras que exibem tanto o conchavo de governos com a imprensa como o papel desta na derrubada de presidentes. Foi assim com Getúlio Vargas, com Juscelino Kubitschek e com Jango Goulart. E até com Fernando Collor de Mello, endeusado quando necessário e demonizado no momento em que não adiantava mais. O povo já estava nas ruas.
A grande imprensa é controlada por meia dúzia de famílias "tradicionais". Foi assim no passado, é no presente e será no futuro, se não houver a necessária democratização dos meios de comunicação. Fazem décadas que a imprensa de São Paulo é controlada pelas famílias Frias, Mesquita e Civita, e a do Rio, pela família Marinho. Mandam e desmandam, elegem e derrubam governantes. Mas o inusitado aconteceu em 2002, quando o eleito não fora ungido nos gabinetes dos barões da mídia. Lula, um operário e não um doutor, desafiou o domínio do poderosos e não encontrou mais paz. Voltou em 2006 numa campanha em que o bordão "deixem o homem trabalhar" tinha o endereço certo. Não adiantou: novamente, a mídia avança e ataca com o objetivo de controlar o pensamento da nação. Nada interessa a não ser a opinião dos donos de grupos empresariais. Liberdade de imprensa? Não, de empresa!

Leia este e outros comentário no blog Correando:
http://jorgecorrea-correando.blogspot.com

31 agosto 2007

OS PROTESTANTES DO SÉCULO XXI

protestantes do século XXI

Lançamento do livro A mídia nas eleições de 2006, organizado pelo prof. Venício A. de Lima, da UnB e do Observatório Brasileiro de Mídia, se transforma em debate sobre porque a campanha da mída conservadora contra a reeleição de Lula não deu certo.

Flávio Aguiar - Carta Maior

Na noite de 30 de agosto, no Sindicato dos Jornalistas no Estado de S. Paulo, foi lançado o livro (Editora Fundação Perseu Abramo) A mídia nas eleições de 2006, organizado pelo professor Venício A. de Lima, da Universidade de Brasília e consultor do Observatório Brasileiro de Mídia. O livro tem apresentação do professor e mais 11 artigos de especialistas no setor, sobre o papel da mídia nas eleições presidenciais do ano passado. Acompanham o livro alguns anexos: as reportagens publicadas na época pela revista Carta Capital; as explicações do diretor executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel; a carta do repórter Rodrigo Vianna, desligado da Globo naquela época, despedindo-se de seus colegas de trabalho (publicada em primeira mão, depois de circular em mensagens na internete, pela Carta Maior em reportagem de Bia Barbosa); e um mapa das votações no primeiro e no segundo turnos.

Além do prof. Venício, estiveram presentes ao lançamento os autores de artigos Renato Rovai, editor da revista Fórum, autor do capítulo “As muitas derrotas da mídia comercial tradicional”; Marcelo Coutinho, diretor executivo do Ibope Inteligência, co-autor de “Os usos das novas mídias na campanha presidencial de 2006; e Kjeld Jakobsen, presidente do Observatório Brasileiro de Mídia, autor de “A cobertura da míodia impressa aos candidatos nas eleições presidenciais de 2006”.

Além de debaterem o livro e seus artigos, os quatro presentes debateram, entre outras, a pergunta feita por Carta Maior sobre “porque em 2006 a campanha da mídia contra a reeleição de Lula não deu certo”. Carta Maior lembrou das vezes em que campanhas conservadoras na mídia “deram certo”: na eleição de 1989, no golpe de 1964, no de 1954 (revertido pelo suicídio do presidente Getúlio Vargas), até mesmo (como lembrou Rovai) na campanha pelas privatizações, durante o governo de FHC, quando criou-se um clima de que tudo o que era público e estatal eram necessariamente ruim.

Houve colocações muito variadas. Todos concordaram que este é um assunto ainda a ser estudado, e que é impossível dar uma explicação cabal e definitiva. Mas aventaram algumas hipóteses. O prof. Venício lembrou o papel das “lideranças intermediárias”, isto é, os líderes de associações de bairros, ongues, sindicatos, etc., que são, agora, “formadores de opinião” tão importantes quanto aqueles que tradicionalmente se julgam donos da “formação de opinião”, os editorialistas, colunistas de jornais, e comentaristas de tevê. Essas “lideranças intermediárias” têm acesso à internete e a uma série de informações alternativas, antes não ou pouco disponíveis, o que pode ter ajudado a contrabalançar o poder da mídia tradicional.

Kjeld Jakobsen lembrou que de fato a vida das pessoas mais pobres, e de um modo geral, melhorou sob o governo Lula, e que isso levou muitas pessoas a pensarem duas vezes antes de simplesmente aderirem à campanha da mídia contra o governo. Lembrou também que a mídia, de um modo geral, tornou-se mais uniformemente conservadora, descolando-se de muitos de seus leitores tradicionais. Lembrouy por exemplo do tempo em que muita gente de esquerda considerava A Folha de S. Paulo um jornal “oficiosamente” à esquerda no espectro do jornalismo brasileiro, e que isso hoje não acontece mais.

Renato Rovai trouxe à baila a idéia de que, além do contrabalanço de informação disponível, havia o fato de que em 2006, ao contrário de 1989, Lula era governo, e isso lhe dá um poder enorme de também gerar informação, além dos poderes inerentes ao Estado brasileiro. Em sua fala lamentou que o governo não tenha avançado mais no sentido de democratização da mídia, curvando-se à pauta do conservadorismo brasileiro neste campo. O jornalista Carlos Tibúrcio, também presente, respondeu, dizendo que era necessário analisar a “correlação de forças” para entender a posição do governo nestas questões.

Mas a nota mais original do debate ficou por conta de Marcelo Coutinho. Depois de dizer que era necessário reconhecer que, apesar de todas as deficiências, o nível de escolaridade no eleitorado brasileiro tinha aumentado muito de 20 anos para cá, lembrou a situação européia ao fim da Idade Média.

Disse que naquela época o quase monopólio de interpretação religiosa detido pela Igreja Católica Romana na Europa foi quebrado pelo protestantismo. E que para a quebra do monopólio foi fundamental a invenção da imprensa no século XV. Hoje, lembrou ele, estaríamos na mesma situação: a pretensão de monopólio de expressão da “opinião pública” por parte da mídia tradicional foi quebrada pela internete, embora o alcance desta esteja longe de ser universal. Mas tão importante quanto reconhecer essa quebra é reconhecer que os atores convencionais, mídia e partidos políticos, ainda não conseguiram responder de modo conveniente e consistente a esse novo quadro cultural, aferrando-se a seus princípios dogmáticos, tanto no plano das idéias quanto no das formulações.

“Internete é diálogo”, lembrou ele. De fato, algo que anda meio longe da nossa mídia convencional, que está menos para polifonia, mesmo que barroca, e muito mais para o uníssono (e ponhamos sono aí) do cantochão gregoriano (É só uma metáfora provocativa, pessoal. Eu adoro cantochão. Na Igreja ou no concerto, é claro, não na mídia).

30 agosto 2007

porque o socialismo ?

Porquê o Socialismo?
por Albert Einstein
Será aconselhável para quem não é especialista em assuntos económicos e sociais exprimir opiniões sobre a questão do socialismo? Eu penso que sim, por uma série de razões.

Consideremos antes de mais a questão sob o ponto de vista do conhecimento científico. Poderá parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas em ambos os campos tentam descobrir leis de aceitação geral para um grupo circunscrito de fenómenos de forma a tornar a interligação destes fenómenos tão claramente compreensível quanto possível. Mas, na realidade, estas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis gerais no campo da economia torna-se difícil pela circunstância de que os fenómenos económicos observados são frequentemente afectados por muitos factores que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência acumulada desde o início do chamado período civilizado da história humana tem sido – como é bem conhecido – largamente influenciada e limitada por causas que não são, de forma alguma, exclusivamente económicas por natureza. Por exemplo, a maior parte dos principais estados da história ficou a dever a sua existência à conquista. Os povos conquistadores estabeleceram-se, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Monopolizaram as terras e nomearam um clero de entre as suas próprias fileiras. Os sacerdotes, que controlavam a educação, tornaram a divisão de classes da sociedade numa instituição permanente e criaram um sistema de valores segundo o qual as pessoas se têm guiado desde então, até grande medida de forma inconsciente, no seu comportamento social.

Mas a tradição histórica é, por assim dizer, coisa do passado; em lado nenhum ultrapassámos de facto o que Thorstein Veblen chamou de “fase predatória” do desenvolvimento humano. Os factos económicos observáveis pertencem a essa fase e mesmo as leis que podemos deduzir a partir deles não são aplicáveis a outras fases. Uma vez que o verdadeiro objectivo do socialismo é precisamente ultrapassar e ir além da fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência económica no seu actual estado não consegue dar grandes esclarecimentos sobre a sociedade socialista do futuro.

Segundo, o socialismo é dirigido para um fim sócio-ético. A ciência, contudo, não pode criar fins e, muito menos, incuti-los nos seres humanos; quando muito, a ciência pode fornecer os meios para atingir determinados fins. Mas os próprios fins são concebidos por personalidades com ideais éticos elevados e – se estes ideais não nascerem já votados ao insucesso, mas forem vitais e vigorosos – adoptados e transportados por aqueles muitos seres humanos que, semi-inconscientemente, determinam a evolução lenta da sociedade.

Por estas razões, devemos precaver-nos para não sobrestimarmos a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos; e não devemos assumir que os peritos são os únicos que têm o direito a expressarem-se sobre questões que afectam a organização da sociedade.

Inúmeras vozes afirmam desde há algum tempo que a sociedade humana está a passar por uma crise, que a sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico desta situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou mesmo hostis em relação ao grupo, pequeno ou grande, a que pertencem. Para ilustrar o meu pensamento, permitam-me que exponha aqui uma experiência pessoal. Falei recentemente com um homem inteligente e cordial sobre a ameaça de outra guerra, que, na minha opinião, colocaria em sério risco a existência da humanidade, e comentei que só uma organização supra-nacional ofereceria protecção contra esse perigo. Imediatamente o meu visitante, muito calma e friamente, disse-me: “Porque se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”

Tenho a certeza de que há tão pouco tempo como um século atrás ninguém teria feito uma afirmação deste tipo de forma tão leve. É a afirmação de um homem que tentou em vão atingir um equilíbrio interior e que perdeu mais ou menos a esperança de ser bem sucedido. É a expressão de uma solidão e isolamento dolorosos de que sofre tanta gente hoje em dia. Qual é a causa? Haverá uma saída?

É fácil levantar estas questões, mas é difícil responder-lhes com um certo grau de segurança. No entanto, devo tentar o melhor que posso, embora esteja consciente do facto de que os nossos sentimentos e esforços são muitas vezes contraditórios e obscuros e que não podem ser expressos em fórmulas fáceis e simples.

O homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social. Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus desejos pessoais, e desenvolver as suas capacidades inatas. Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantess, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. Apenas a existência destes esforços diversos e frequentemente conflituosos respondem pelo carácter especial de um ser humano, e a sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade. É perfeitamente possível que a força relativa destes dois impulsos seja, no essencial, fixada por herança. Mas a personalidae que finalmente emerge é largamente formada pelo ambinte em que um indivíduo acaba por se descobrir a si próprio durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição dessa sociedade, e pelo apreço por determinados tipos de comportamento. O conceito abstracto de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações directas e indirectas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indíviduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade. É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”.

É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um facto da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e abelhas é reduzido ao mais pequeno pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as interrelações dos seres humanos são muito variáveis e susceptíveis de mudança. A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia; nas obras de arte. Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar a sua vida através da sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade conscientes podem desempenhar um papel.

O homem adquire à nascença, através da hereditariedade, uma constituição biológica que devemos considerar fixa ou inalterável, incluindo os desejos naturais que são característicos da espécie humana. Além disso, durante a sua vida, adquire uma constituição cultural que adopta da sociedade através da comunicação e através de muitos outros tipos de influências. É esta constituição cultural que, com a passagem do tempo, está sujeita à mudança e que determina, em larga medida, a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna ensina-nos, através da investigação comparativa das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode divergir grandemente, dependendo dos padrões culturais dominantes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto que aqueles que lutam por melhorar a sorte do homem podem fundamentar as suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, devido à sua constituição biológica, a exterminarem-se uns aos outros ou a ficarem à mercê de um destino cruel e auto-infligido.

Se nos interrogarmos sobre como deveria mudar a estrutura da sociedade e a atitude cultural do homem para tornar a vida humana o mais satisfatória possível, devemos estar permanentemente conscientes do facto de que há determinadas condições que não podemos alterar. Como mencionado anteriormente, a natureza biológica do homem, para todos os objectivos práticos, não está sujeita à mudança. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos criaram condições que vieram para ficar. Em populações com fixação relativamente densa e com bens indispensáveis à sua existência continuada, é absolutamente necessário haver uma extrema divisão do trabalho e um aparelho produtivo altamente centralizado. Já lá vai o tempo – que, olhando para trás, parece ser idílico – em que os indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente auto-suficientes. É apenas um pequeno exagero dizer-se que a humanidade constitui, mesmo actualmente, uma comunidade planetária de produção e consumo.

Cheguei agora ao ponto em que vou indicar sucintamente o que para mim constitui a essência da crise do nosso tempo. Diz respeito à relação do indivíduo com a sociedade. O indivíduo tornou-se mais consciente do que nunca da sua dependência relativamente à sociedade. Mas ele não sente esta dependência como um bem positivo, como um laço orgânico, como uma força protectora, mas mesmo como uma ameaça aos seus direitos naturais, ou ainda à sua existência económica. Além disso, a sua posição na sociedade é tal que os impulsos egotistas da sua composição estão constantemente a ser acentuados, enquanto os seus impulsos sociais, que são por natureza mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, seja qual for a sua posição na sociedade, sofrem este processo de deterioração. Inconscientemente prisioneiros do seu próprio egotismo, sentem-se inseguros, sós, e privados do gozo naïve, simples e não sofisticado da vida. O homem pode encontrar sentido na vida, curta e perigosa como é, apenas dedicando-se à sociedade.

A anarquia económica da sociedade capitalista como existe actualmente é, na minha opinião, a verdadeira origem do mal. Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos do seu trabalho colectivo – não pela força, mas, em geral, em conformidade com as regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é importante compreender que os meios de produção – ou seja, toda a capacidade produtiva que é necessária para produzir bens de consumo bem como bens de equipamento adicionais – podem ser legalmente, e na sua maior parte são, propriedade privada de indivíduos.

Para simplificar, no debate que se segue, chamo “trabalhadores” a todos aqueles que não partilham a posse dos meios de produção – embora isto não corresponda exactamente à utilização habitual do termo. O detentor dos meios de produção está em posição de comprar a mão-de-obra. Ao utilizar os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista. A questão essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o que recebe, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que o contrato de trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe é determinado não pelo valor real dos bens que produz, mas pelas suas necessidades mínimas e pelas exigências dos capitalistas para a mão-de-obra em relação ao número de trabalhadores que concorrem aos empregos. É importante compreender que, mesmo em teoria, o pagamento do trabalhador não é determinado pelo valor do seu produto.

O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses das secções sub-privilegidas da população. Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, directa ou indirectamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objectivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos.

Assim, a situação predominante numa economia baseada na propriedade privada do capital caracteriza-se por dois principais princípios: primeiro, os meios de produção (capital) são privados e os detentores utilizam-nos como acham adequado; segundo, o contrato de trabalho é livre. Claro que não há tal coisa como uma sociedade capitalista pura neste sentido. É de notar, em particular, que os trabalhadores, através de longas e duras lutas políticas, conseguiram garantir uma forma algo melhorada do “contrato de trabalho livre” para determinadas categorias de trabalhadores. Mas tomada no seu conjunto, a economia actual não difere muito do capitalismo “puro”.

A produção é feita para o lucro e não para o uso. Não há nenhuma disposição em que todos os que possam e queiram trabalhar estejam sempre em posição de encontrar emprego; existe quase sempre um “exército de desempregados. O trabalhador está constantemente com medo de perder o seu emprego. Uma vez que os desempregados e os trabalhadores mal pagos não fornecem um mercado rentável, a produção de bens de consumo é restrita e tem como consequência a miséria. O progresso tecnológico resulta frequentemente em mais desemprego e não no alívio do fardo da carga de trabalho para todos. O motivo lucro, em conjunto com a concorrência entre capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital que conduz a depressões cada vez mais graves. A concorrência sem limites conduz a um enorme desperdício do trabalho e a esse enfraquecimento consciência social dos indivíduos que mencionei anteriormente.

Considero este enfraquecimento dos indivíduos como o pior mal do capitalismo. Todo o nosso sistema educativo sofre deste mal. É incutida uma atitude exageradamente competitiva no aluno, que é formado para venerar o sucesso de aquisição como preparação para a sua futura carreira.

Estou convencido que só há uma forma de eliminar estes sérios males, nomeadamente através da constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objectivos sociais. Nesta economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados de forma planeada. Uma economia planeada, que adeque a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas, tentaria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa actual sociedade.

No entanto, é necessário lembrar que uma economia planeada não é ainda o socialismo. Uma tal economia planeada pode ser acompanhada pela completa opressão do indivíduo. A concretização do socialismo exige a solução de problemas socio-políticos extremamente difíceis; como é possível, perante a centralização de longo alcance do poder económico e político, evitar a burocracia de se tornar toda-poderosa e vangloriosa? Como podem ser protegidos os direitos do indivíduo e com isso assegurar-se um contrapeso democrático ao poder da burocracia?

A clareza sobre os objectivos e problemas do socialismo é da maior importância na nossa época de transição. Visto que, nas actuais circunstâncias, a discussão livre e sem entraves destes problemas surge sob um tabu poderoso, considero a fundação desta revista como um serviço público importante.



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Einstein escreveu este trabalho especialmente para o lançamento da Monthly Review , cujo primeiro número foi publicado em Maio de 1949. Tradução de Anabela Magalhães.

26 agosto 2007

carta do Marcio Almeida

Meu caro Manuel,
Pois é. Inaugurando com você a dialógica. Como lhe falei há pouco, moçada de hoje está perdida. Não saber o que se é influencia o não saber o que se quer ser. Se lessem Kant, p.ex., não teriam essa dúvida. A permissividade, a merdiocridade, a libertinagem, aliadas a um "clima" de puro hedonismo fazem com que a juventude hodierna "paste" em ambiguidades, em indecisões, coisas típicas da pós-modernidade que começa lá nos anos 60 com Jean-François Lyotard e invade toda a sociedade consumista contemporânea. Não é o caso se imputar uma culpa a quem quer que seja, mas há que pensar na formação à distância que os jovens de hoje vêm tendo: distantes de si mesmos, seja por drogas, álcool, alheamento pessoal, falta de engajamento, seja distantes dos pais, da realidade comprometida com o trabalho, ou, o pior delas, o distanciamento via internet. Orkut e similares são vias de acesso para lugar nenhum. Incentivam uma dialógica interpessoal que nada acrescenta a nada. é como uma fuga da temporalidade, porque o tempo engendra compromisso e responsabilidade: ele é irreversível, não permite retorno e dura pouco. Hélás!
Fica aí uma tópica pra gente discutir.
Abraço. Que você tenha bons orgasmos metafísicos com as Pérolas do Vestibular.
Domingo devia ser um dia diluído entre os dias de "feira". É sacal. É o dia em que a mediocridade se reúne nas televisões para imbecilizar ainda mais o hello crazy people.
Márcio Almeida

23 agosto 2007

ainda sobre a escola pública

poe Claudia Helena

O Governo Federal lançou o PED O que é o Plano de Desenvolvimento da Educação que visa, entre muitas outras coisas,"uma educação básica de qualidade. Essa é a prioridade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Investir na educação básica significa investir na educação profissional e na educação superior, porque elas estão ligadas, direta ou indiretamente. Significa também envolver todos, pais, alunos, professores e gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a permanência do aluno na escola." Entre as várias ações do PED, estão o Brasil Alfabetizado, o Incentivo à Ciência, etc.
A análise de Frei Betto é pertinente e deve ser objeto de reflexão: é preocupante sabermos que em todos os municípios e estados do nosso país, as Secretarias onde mais ocorre desvio de recursos públicos são as de Educação e de Saúde. Portanto, é fundamental a participação das comunidades locais no sentido de fiscalizar a utilização desses recursos para a finalidade a que são destinados. Isso desde a Revolução Francesa já é um direito reconhecido mas aqui no Brasil não temos ainda institucionalizados mecanismos para essa fiscalização popular direta. Penso que gestões envolvendo as experiências do Partido dos Trabalhadores em Orçamento Participativo em Porto Alegre, por exemplo, são referências interessantes para que se encontrem caminhos democráticos para a gestão da coisa pública.

22 de Agosto de 2007 20:04

22 agosto 2007

umas palavras do Boff

"Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)

(...) Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."

Casamento entre o céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001.pg09

20 agosto 2007

A Biblia numa optica feminina

A Bíblia pela ótica feminina

Frei Betto


A menina marcava as páginas onde estavam impressas aquelas leis absurdas com a intenção de, mais tarde, arrancá-las. 0 pai explicou-lhe que era inútil, havia muitos outros livros com as mesmas leis. quisesse mudá-las, teria de convencer as pessoas que faziam leis.

Lida por esta ótica, a Bíblia revela a igualdade entre homens e mulheres e denuncia a leitura machista que pretende derivar dos desígnios de Deus instrumentos de dominação, como a interdição de acesso das mulheres ao sacerdócio e ao episcopado, e a preponderância masculina sob o pretexto de que Eva foi criada a partir da costela de Adão — quando a natureza não deixa dúvidas de que todo homem nasce do corpo de uma mulher.

0 evangelista Mateus aponta, na árvore genealógica de Jesus; cinco mulheres. Tamar, Raab, Rute e Maria; e de modo implícito, a mãe de Salomão, aquela "que foi mulher de Urias". Não é bem uma ascendência da qual um de nós haveria de se orgulhar.

Em sua atividade pública, Jesus se fez acompanhar pelos Doze e por algumas mulheres: Maria Madalena; Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes; Susana e várias outras. Portanto, o grupo de discípulos de Jesus não era propriamente machista. Além disso, Jesus freqüentava, em Betânia, a casa de suas amigas Marta e Maria, irmãs de Lázaro.

O primeiro milagre de Jesus foi para atender ao pedido de uma mulher, Maria, sua mãe, preocupada com a falta de vinho numa festa de casamento em Canã.

Escolhido por Jesus para ser o primeiro Papa, Pedro era casado.


Em nosso país, destacam-se Ana Flora Anderson, Teresa Cavalcanti, Wanda Deifelt e Athalya Brenner. O Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) há anos forma, pelo Brasil afora, homens e mulheres dos setores populares em novos métodos de interpretação bíblica, pondo fim ao monopólio clerical e machista.

Descobrir que a mulher ocupa na Bíblia lugar e importância iguais aos do homem é questionar as igrejas que, às vésperas do terceiro milênio, insistem em reservar aos homens as funções de poder. E, por tabela, subverter os valores desta sociedade que considera a direção política um talento masculino e a questão social um derivativo da primeira dama, e ilustra sua publicidade televisiva e as páginas das revistas com mulheres que se prestam a ser reificadas, reduzidas ao mero apelo de consumo material e simbólico e, no entanto, queixam-se quando tratadas pelos homens como objetos descartáveis.


Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Christo),(1945) quando jovem frade dominicano esteve envolvido com as lutas revolucionárias de seu tempo, com a política e a arte. Militante de esquerda, simpatizante da luta armada, se dividia entre os estudos de filosofia, o jornalismo e a assistência de direção de José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de O rei da vela, pelos idos de 1967. É escritor consagrado, com inúmeros livros de sucesso, dentre eles "Fidel e a Religião", coletânea de entrevistas com o líder cubano. O texto acima foi publicado no jornal "O Globo", de 28/07/2000.