Powered By Blogger

03 março 2009

Educação, jornais, livros e leitura


* Carlos Lúcio Gontijo


O português, mais que a língua que falamos, é o veículo responsável pela comunicação entre os brasileiros e, principalmente, fator determinante, na área da educação, dos graus de compreensão e absorção dos conteúdos técnico e acadêmico de todas as disciplinas, transformando-se, assim, no eixo regulador de tudo no campo da intelectualidade e da informação.
Não é à toa, portanto, que os educadores se nos apresentem extremamente preocupados com o fato de alunos de 5ª série não saberem ler nem escrever, demonstrando em suas redações problemas relativos à ortografia, organização lógica de texto e pontuação. Ou seja, os estudantes se nos revelam incapacitados para se comunicarem graficamente, expressando-se de forma desconexa e incompreensível.
Aparente e explicitamente, assistimos à materialização de uma política educacional que foi montada para mostrar resultados estatísticos a curto prazo, chegando mesmo a afirmar, implicitamente, que não há preocupação com o processo de aprendizagem, e sim com os números, que indicam quase o fim da repetência e da reprovação, mas à custa de queda significativa no nível de conhecimento dos alunos.
Em suma, assistimos ao aumento de número de crianças e adolescentes nas escolas, mas visualizamos a triste constatação de que há muitos problemas na formação dos alunos, denotando graves falhas de alfabetização, cuja correção pode levar anos, além de estar colocando em xeque a ideia de se organizarem as escolas em ciclos, anunciada como novidade, apesar de ser discutida desde os anos 1940, quando houve uma reforma educacional na Inglaterra, após o término da Guerra Mundial.
Estranha e extemporaneamente, foi nesse ambiente educacional repleto de emaranhados e imbróglios que o governo brasileiro resolveu propugnar pela reforma ortográfica que mexe com alguns acentos, junta e hifeniza algumas palavras, traduzindo uma visão turva de que, assim, se estaria facilitando a construção de uma pretensa comunidade lusófona (Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, São Tomé, Moçambique, Timor Leste e Guiné-Bissau), quando, ao que se sabe e nos ensina a sociologia, tal panorama se dá, realmente, pela similaridade de usos, costumes e, claro, da língua. Ou seja, fila continuará chamada de bicha em Portugal, apesar da desnecessária reforma ortográfica.
A insofismável realidade é que não há como alicerçar educação sobre o pagamento de tão baixos salários aos professores. Ao nos deparar com o discurso de prioridade para a área educacional proferido pelas autoridades governamentais, somos levados a não acreditar, pois os fatos concretos são estarrecedores. Em Minas Gerais , por exemplo, as bibliotecárias são alocadas no quadro permanente, mesmo diante das promessas (e propagandas institucionais) de valorização da leitura, reconhecidamente indispensável para o aprendizado do aluno. Um contracheque de professora/bibliotecária preste a se aposentar nos prova (e comprova), sem rodeios nem tergiversações, a triste realidade: vencimento básico (344,07); qüinqüênio admin. ec. (34,41); qüinqüênio administrativo (68,81); auxilio transporte (30,60); auxílio refeição (45,00); vantag. temp. incorp. 34,41; Aspemg-mens/contrib. (16,73); Ipsemg assist. médica (20,68); contrib. Prev. Art. 28 (71,08)... E, finalmente, pondo fim à falácia da classe política, pasmem, líquido a receber: R$ 613,31.
Como escritor menor, com 11 obras e trabalhando para o lançamento de dois novos títulos em maio deste ano (o livro infantil DUDUCHA E O CD DE MORTADELA; e o romance JARDIM DE CORPOS), deixo arrebatar-me por desmedida indignação, perante um Estado que se tornou grande demais para cuidar das pequenas demandas do povo e extremamente pequeno para intervir e solucionar os grandes problemas sociais. Por fim, só me resta recorrer a um antigo aforismo de minha autoria e que serve de alerta aos que, metidos em exacerbado individualismo, se utilizam da máquina estatal em proveito próprio, como se contassem com a eterna passividade da população cada vez mais espoliada, empobrecida e desesperada: No palco solidário da arte do amor e da vida em parceria, não há espaço para os que optam pelo egoísmo da carreira solo.
* Carlos Lúcio Gontijo
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/