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27 agosto 2009

na carreira dos enta

____________________________________________________________________________ marcio almeida

A vida, enfim, passa a ser só o problema.
Ao chegar mais longe, viva o passado.
O seu porvir, com otimismo, é o dilema:
decrepitude, desmemória, lance sem dado.

O que foi prazer, hélàs!, não se repete,
pior é o tempo – caminho em fuga:
o que era doce hoje amarga diabetes,
o rosto em fogo? – um canyon de rugas.

Mire-se no espelho: você é quem?, diga
a seus iguais anciãos de banco,
de filas que se empurram com a barriga,
veja: pois faltam até cabelos brancos...


Nessa idade se despede o que não pode,
o que não deve vira lei e cobra caro.
A vida pende para ser mais um Herodes:
- muito cuidado com espirros e esbarros.

Aquela pinga com torresmo, muita cautela!
Qualquer excesso, até de água, vira milícia:
o amor é o que já não se faz com ela,
maturidade é uma infância com malícia.

E vai-se em frente com a coragem em polvorosa,
mesmo porque, não minta! – é sem retorno.
Envelhecer é digno como espinho duma rosa,
fica o exemplo que, fértil, se molda em torno.

Há bobices que os pré-velhos têm nos lábios
que matracam entre dentes de resina,
não é o tempo o mestre justo do que é sábio,
mas o que a falta não permite sorte e sina.

Há todo um imbroglio de armadilhas à saúde,
que a vida ousada ou só brinquedo fez doer:
pois tecle um para lembrar bolas de gude,delete o mal que a vida

21 agosto 2009

manuelrabelo@yahoo.com.br>



Multiplicação dos complexos culturais em BH

Carlos Lúcio Gontijo


OS ESPAÇOS culturais se multiplicam em Belo Horizonte , especialmente na área central da cidade, onde vários imóveis foram transformados em centros culturais nos últimos anos e, ao que parece, com a criação do novo centro administrativo pelo governo do Estado, teremos uma surpreendente multiplicação dos complexos destinados à cultura – o que por si só não resolve a falta de patrocínio enfrentada pelos verdadeiros agentes culturais: os artistas plásticos, os músicos, os artesãos, os atores, as companhias teatrais, os poetas, os escritores etc.
A SIMPLES abertura de novos espaços destinados à apresentação do propalado (mas tão desvalorizado) bem cultural pode ser tomada por desavisados como o surgimento de uma espécie de céu de brigadeiro, entretanto a realidade é que a cultura ainda vive sob a triste tempestade moral do pires na mão e do incoerente ato de assistir à liberação dos escassos recursos de que dispõe para os chamados artistas de ponta, que, apesar de detentores de carreiras consolidadas, não abrem mão do dinheiro público (Caetano Veloso, que o diga!), ao qual chegam com todas as facilidades proporcionadas pelo exercício do jogo de influência possibilitado pelo prestígio que ostentam.
DESSA FORMA, aos observadores mais apressados pode parecer que estamos no limiar de uma magnífica revitalização e resgate da vocação cultural do Centro da capital mineira, porém é bom que todos atentem para o fato de a área já abrigar, por exemplo, alguns teatros que sobrevivem a duras penas.
OU SEJA, o problema cultural não está na falta de palcos formais de apresentação, mas na ausência de investimento no produtor de cultura – o artista –, que não encontra patrocinadores, uma vez que a Lei Rouanet, equivocada e erroneamente, favorece a captação de recursos (quase que exclusivamente) por autores conhecidos ou focados pela mídia, pois o empresário, antes da análise cultural, tem como objetivo dar projeção à sua logomarca, ao produto que fabrica e comercializa.
DISPONIBILIZAR locais para eventos artísticos talvez seja a questão mais fácil do setor cultural; a real dificuldade reside em alavancar recursos para incentivar a montagem e apresentação de peças teatrais, exposições e impressão de livros, pois há todo um cenário de custos, inclusive no campo publicitário, para atrair um público cada vez mais voltado aos apelos do grotesco, trabalhos culturais explicitamente descartáveis e de discutível valor como ferramenta capaz de auxiliar na formação ou construção de um cidadão mais consciente e melhor.
ENFIM, o incentivo à cultura vai (e está) muito além da abertura ou disponibilização de espaços culturais: é preciso investir em seus autores/atores por meio da democratização do acesso aos incentivos culturais, que hoje são direcionados e pretensamente orientados por uma espécie de política cultural imediatista do patrocinador/empresário – distante da necessária visão pública do bem cultural.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

15 agosto 2009

Livros ao pé da árvore
e Obama de Nova Iguaçu

Carlos Lúcio Gontijo



Os que são guiados pelo dom divino da prática literária percebem, na maioria das vezes, a invisibilidade em que se acha envolvido o seu trabalho diante da carência de espaço para divulgação e da indiferença advinda da mais completa falta de hábito de leitura. E quando falamos em escassez de leitores não estamos debitando a triste realidade ao baixo índice educacional da população brasileira, pois uma imensa gama de professores, estudantes e graduados em curso superior não está nem aí para livros.
A produção literária é matéria desprovida de valor exatamente por não ser tomada como elemento prioritário na vida das pessoas cada vez mais movidas pelo imediatismo e atraídas pelo consumo imediato, capaz de fazer do supérfluo uma coisa essencial e alvo da atenção de todos. Então, na falta de hábito de leitura e gosto pelo embevecimento da alma proporcionado pela pureza inebriante da poesia, assistimos ao avanço da busca pela cocaína pura –para alegria do tráfico de drogas e propagadores da violência que nos assola.
Idealista e ao mesmo tempo amante da luta em prol da construção de uma sociedade menos injusta e mais fraterna, o advogado e escritor João Silva de Souza realiza, há um bom tempo, o trabalho solitário e bem-intencionado de colocar, estrategicamente, livros ao pé de árvores nas imediações da Praça da Liberdade.
Desejoso de encontrar e fazer contato com cidadãos civilizados e interessados na indispensável arte literária, ele escreve mensagem acompanhada de endereço em cada livro semeado ao lado das árvores que embelezam a famosa praça pública da capital dos mineiros. Contudo, o autor de tão inspirada iniciativa jamais recebeu sequer um telefonema ou um simples bilhete de agradecimento.
Felizmente, essa invisibilidade em que vive parte significativa dos que integram o malcuidado campo literário vem, aos poucos, sendo desfeita, ou melhor, diminuída com o advento da internet, que tem como relevância a instalação de um ambiente mais democrático e fora dos parâmetros impostos pelos tradicionais, glaciais e pretensamente eruditos cadernos de cultura editados pela grande mídia.
Outro dia, ao digitarmos nosso nome no Google, nos deparamos com uma prova de que estamos no limiar de novos tempos. Lá encontramos o seguinte tópico: “Vamos falar de poetas? – Yahoo! Respostas”, no qual o proponente escreveu altivo: “O que vocês acham dos poetas Lord Byron e Charles Baudelaire? E quais são os seus favoritos? Para nossa surpresa, uma resposta explícita saltou-nos aos olhos, remetendo-nos à importância do site que mantemos no ar com tanto empenho. “Não os conheço. Vou pesquisar. Mas veja alguns poetas portugueses: Carlos Lúcio Gontijo, Sérgio Porto, Carlos Morais Santos”. Assinado, Obama de Nova Iguaçu – com foto e tudo!
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br