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28 maio 2009

Retalhos de mim

Carlos Lúcio Gontijo


A grande realidade é que, apesar das muitas pedras no caminho, conseguimos avançar e, bem ou mal, construímos uma obra literária que, no dia 20 de junho, às 18 horas, em noite de autógrafos na Associação Mineira de Imprensa (AMI), entidade presidida pelo amigo Wilson Miranda, chegará aos 13 livros, com os lançamentos do romance “Jardim de corpos” e da obra infantil “Duducha e o CD de mortadela”.
Todavia, mesmo nos considerando vitoriosos, não podemos nos esquecer nem deixar de apontar o abandono em que se encontra a atividade literária no Brasil, onde as editoras se contentam em disputar a indicação de livros para aquisição pelo governo e o consequente encaminhamento às escolas, alugar selos a escritores independentes (e idealistas) e, ao mesmo tempo, editar best-sellers ou alguma narração de valor duvidoso de gente famosa e mesmo confidências pornográficas de alcova. Enfim, isso tudo somado ao reduzido estoque de leitores e à inexistência de política de apoio cultural, que foi entregue aos humores e interesses comerciais de poucas empresas patrocinadoras, cuja visão se prende a produto de mais fácil aceitação popular ou capaz de atrair os holofotes da mídia, redunda em quadro amplamente inibidor à produção de livros.
Dessa forma, temos escritores com mais de 50/60 anos que, pelo ineditismo e falta de divulgação, são jovens dentro do mundo literário, jogando por terra e tirando a seriedade de qualquer projeto que tome como novo autor aquele que ainda não passou dos 30 anos, uma vez que a cronologia na injusta área da criação não pode ser medida pela idade do escritor, que muitas vezes só consegue editar sua arte no vigor da maturidade.
Não raro, os poetas e escritores não obtêm apoio no meio em que vivem, pois a cultura de trabalhar pela desvalorização da proximidade campeia entre nós feito erva daninha em lavoura malcuidada, como se apenas as especiarias artísticas de além-mar e outras plagas tivessem significado e conteúdo . Tal procedimento errôneo dificulta a criação do hábito de leitura, que tem seu nascedouro na infância e na adolescência, uma vez que, ao menosprezar os autores que lhe são próximos, as comunidades não facilitam a presença de poetas e escritores em suas unidades escolares e, assim, passam aos estudantes a falsa imagem de que os que escrevem são pessoas superiores e completamente diferentes de todas as demais – não havendo, portanto, qualquer estímulo que leve os alunos aos livros, já que as primeiras leituras cobram proximidade de linguagem, usos e costumes.
Para terminar, deixamos ao sopé o testemunho de Aldivo Mazzini, um escriba de sensibilidade, excelente poeta sul-mato-grossense de Dourados, que nos foi enviado por e-mail e que serviria para explicar a trajetória de autores independentes como nós, Harildo Norberto Ferreira, os gêmeos Leosino e Leonildo Miranda Araújo, João Silva de Souza, Regina Morelo, Sebastião Henriques e tantos outros: “Se tenho livro publicado (Retalhos de mim), saiu do meu próprio bolso. Assim, tantas outras obras produzidas podem ter como destino as gavetas. E, automaticamente, o esquecimento, porque, com raras exceções, alguém no futuro irá apanhar tudo isto e procurará fazer uma análise que seja. Perde-se, com certeza, uma bagagem muito grande de obras espalhadas por este país gigante”.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

18 maio 2009

De Bueno de Rivera ao Poetas del Mundo

Carlos Lúcio Gontijo


Bueno de Rivera, um dos grandes poetas de língua portuguesa e, por isso, merecidamente reverenciado em qualquer lugar onde o assunto seja a poesia maiúscula, é o maior dos seres humanos nascidos em Santo Antônio do Monte, cidade localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais e da qual vim para Belo Horizonte a fim de dar prosseguimento aos meus estudos. Já cursava jornalismo quando procurei o poeta Bueno de Rivera, do qual muitos se lembram por causa do Guia Rivera, uma publicação que registrava o ponto e o trajeto dos ônibus coletivos que serviam aos bairros da capital mineira. Fui recebido com afeto pelo poeta de voz firme e marcante de locutor de rádio – uma atividade que também exerceu em sua vida – e, no final do encontro, saí com a promessa de um prefácio para o meu segundo livro de poemas (Leite e Lua), cujos originais com ele deixei.
Passados alguns dias, recebi um telefonema dizendo que o prefácio estava pronto e que eu poderia buscá-lo. Bueno de Rivera me recebeu, mais uma vez, com alegria e clara satisfação no rosto, afirmando-me que sua alma estava em festa por estar diante de um poeta com origem em sua terra. Falou-me de meu potencial e aconselhou-me a lapidar o dom com que havia nascido, pois se eu não encontrasse o meu estilo, não importando se bom ou ruim, eu seria apenas mais um poeta neste mundo. E comparou: “é mais ou menos como um bom arquiteto que não ousa traçado novo e seu”.
O certo é que saí dali disposto a editar meu “Leite e Lua”, mas a iniciar a busca de uma maneira de expressar com alguma característica literária que fosse minha. Era o ano de 1977 e eu só voltei a editar em 1987 (Cio de Vento), depois de debruçar nas janelas da procura de uma forma de escrever que tivesse um jeito que fosse meu. Durante todo aquele tempo, soavam aos meus ouvidos os conselhos de Rivera: “Vá escrevendo, fazendo sua carreira literária e, quando deparar com livro seu nas prateleiras de algum sebo, você poderá se considerar, no mínimo, vitorioso”.
Hoje, digito meu nome no Google e me deparo com livros de minha autoria expostos em sebos e me recordo do incomparável poeta Bueno de Rivera. Como é duro o exercício da arte de escrever no Brasil, onde a lei de incentivo à cultura fica na dependência final dos humores do setor empresarial e onde os custos gráficos são verdadeiro desplante. Aqui, o autor paga para editar e, se vai remeter, em gesto de doação e idealismo, um exemplar de seu livro pelo Correio, ele não encontra qualquer benefício à sua disposição. Ou seja, paga por sua vocação de forma literalmente injusta.

A poesia só caminha em solo brasileiro graças ao apoio de pessoas e entidades sensíveis, que compreendem a sua importância na sensibilização da sociedade, que quanto menos despoetizada mais violenta se nos apresenta. Há algum tempo, fui convidado por Sandra Fayad, poeta e escritora residente em Brasília, a integrar o movimento internacional “Poetas del Mundo”. E, dessa forma, tive contato com a poetiza Clevane Pessoa, uma das líderes, em Minas Gerais , da entidade que mantém um gigantesco e prestigiado site no ar, com poetas de todas as regiões do planeta Terra. Clevane, além de estar à frente do comando do movimento, recebendo com extremo senso de igualdade a todos que a procuram, põe-se à frente do evento “Paz e Poesia”, que, pelo segundo ano consecutivo, em Belo Horizonte , inundou a Feira de Artesanato e a avenida Afonso Pena de poemas e livros, que são entregues aos feirantes, num trabalho de cunho cultural que devia merecer a cobertura da mídia mineira tão provincianamente dadivosa quando se trata de iniciativa apresentada por gente de outras plagas.
Acredito que, se Deus carrega o Universo nos braços, a poesia Ele leva em Suas mãos. Por isso, creio também que todos aqueles, que – como a poetisa Clevane – se dedicam à divulgação da arte poética aliviam o peso depositado nas mãos de Deus e, ao mesmo tempo, enchem de esperança o espírito de escultores e artífices da palavra como o poeta santo-antoniense Bueno de Rivera.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

05 maio 2009

A poesia tem força de prece

Carlos Lúcio Gontijo

À medida que se aproxima o momento de lançamento de nossos livros (o romance “Jardim de Corpos” e a obra infantil “Duducha e o CD de Mortadela”, dia 20 de junho, às 18h, na Associação Mineira de Imprensa, à Rua da Bahia, 1.450), vislumbramos com mais tristeza ainda a enorme dificuldade enfrentada pelos que, levados pelo dom da palavra ou da sensibilidade poética, procuram imprimir suas obras literárias no Brasil, onde muita gente remunerada há cuidando do setor cultural, mas poucos representantes públicos constituídos realmente interessados na questão. A dura realidade é que são em pequeno número as editoras que ousam investir em autores novos e o que temos são gráficas que alugam seus selos a autores idealistas que fazem das tripas coração para arcar com o alto custo da impressão de um livro.
Agentes culturais públicos, tangidos pelo mais completo desconhecimento da atividade literária, chegam a promover a implementação de incentivos e concursos para a área da literatura em busca de novos talentos, sob a visão míope de escaloná-los por faixa etária, como se houvesse uma norma cronológica no fazer literário, que é regido simplesmente por autores conhecidos e desconhecidos.
Prova disso é que, recentemente, um grande amigo nosso, Sebastião Henriques, lançou aos 84 anos o seu primeiro livro. São tantas as dificuldades em torno da edição de uma obra literária que, se bem nos lembramos, tivemos a honra de prefaciar o belo feixe de poesias do “novo autor” – apesar de não ser jovem – há uns seis, oito anos, e só agora o fogaréu de seus versos veio a lume.
Nós mesmos, só nos encaminhamos para o nosso 14º livro, graças ao apoio do pai José Carlos Gontijo e à ajuda de alguns bons amigos, que acreditam na honestidade e na legitimidade de nosso trabalho literário, que estendemos, por meio da doação de livros, a muitos lugares onde não há livrarias ou bibliotecas públicas disponíveis aos cidadãos, como é o caso de zonas rurais, nas quais não encontramos livros de literatura nem nas escolas.
Não faz muito tempo, recebemos e-mail de um universitário que cursa psicologia na PUC/Arcos-MG, confessando que os primeiros livros de literatura aos quais teve acesso foram os que destinamos à escola rural em que estudava em distrito pertencente à cidade de Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas Gerais.
Autores idosos e, no entanto, jovens na atividade literária existem aos montes, com seus escritos entulhando gavetas e ferindo sonhos intelectuais à espera da materialização gráfica que se lhes vai transformando em projeto irrealizável, à medida que o tempo passa para os autores inéditos, que se veem prisioneiros de uma democracia em que o direito de expressão para os escribas menores ou desconhecidos não tem vez , não tem voz nem espaço nos raros jornais que, erudita e glacialmente, cobrem literatura no Brasil.
Acreditamos piamente que o ambiente literário se nos apresenta totalmente desfavorável aos que decidem por editar, como nós, de forma independente. Apenas seguimos em frente lançando livros e disponibilizando-os ao público (com livre acesso) em nosso site, por estarmos na luta há muito tempo – desde 1977 – e por termos em mente que “Da poesia verdadeira não se esquece/ Todo poema tem força de prece/ Se vai desta vida o poeta seu autor/ A poesia no amor do leitor permanece.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br