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05 maio 2009

A poesia tem força de prece

Carlos Lúcio Gontijo

À medida que se aproxima o momento de lançamento de nossos livros (o romance “Jardim de Corpos” e a obra infantil “Duducha e o CD de Mortadela”, dia 20 de junho, às 18h, na Associação Mineira de Imprensa, à Rua da Bahia, 1.450), vislumbramos com mais tristeza ainda a enorme dificuldade enfrentada pelos que, levados pelo dom da palavra ou da sensibilidade poética, procuram imprimir suas obras literárias no Brasil, onde muita gente remunerada há cuidando do setor cultural, mas poucos representantes públicos constituídos realmente interessados na questão. A dura realidade é que são em pequeno número as editoras que ousam investir em autores novos e o que temos são gráficas que alugam seus selos a autores idealistas que fazem das tripas coração para arcar com o alto custo da impressão de um livro.
Agentes culturais públicos, tangidos pelo mais completo desconhecimento da atividade literária, chegam a promover a implementação de incentivos e concursos para a área da literatura em busca de novos talentos, sob a visão míope de escaloná-los por faixa etária, como se houvesse uma norma cronológica no fazer literário, que é regido simplesmente por autores conhecidos e desconhecidos.
Prova disso é que, recentemente, um grande amigo nosso, Sebastião Henriques, lançou aos 84 anos o seu primeiro livro. São tantas as dificuldades em torno da edição de uma obra literária que, se bem nos lembramos, tivemos a honra de prefaciar o belo feixe de poesias do “novo autor” – apesar de não ser jovem – há uns seis, oito anos, e só agora o fogaréu de seus versos veio a lume.
Nós mesmos, só nos encaminhamos para o nosso 14º livro, graças ao apoio do pai José Carlos Gontijo e à ajuda de alguns bons amigos, que acreditam na honestidade e na legitimidade de nosso trabalho literário, que estendemos, por meio da doação de livros, a muitos lugares onde não há livrarias ou bibliotecas públicas disponíveis aos cidadãos, como é o caso de zonas rurais, nas quais não encontramos livros de literatura nem nas escolas.
Não faz muito tempo, recebemos e-mail de um universitário que cursa psicologia na PUC/Arcos-MG, confessando que os primeiros livros de literatura aos quais teve acesso foram os que destinamos à escola rural em que estudava em distrito pertencente à cidade de Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas Gerais.
Autores idosos e, no entanto, jovens na atividade literária existem aos montes, com seus escritos entulhando gavetas e ferindo sonhos intelectuais à espera da materialização gráfica que se lhes vai transformando em projeto irrealizável, à medida que o tempo passa para os autores inéditos, que se veem prisioneiros de uma democracia em que o direito de expressão para os escribas menores ou desconhecidos não tem vez , não tem voz nem espaço nos raros jornais que, erudita e glacialmente, cobrem literatura no Brasil.
Acreditamos piamente que o ambiente literário se nos apresenta totalmente desfavorável aos que decidem por editar, como nós, de forma independente. Apenas seguimos em frente lançando livros e disponibilizando-os ao público (com livre acesso) em nosso site, por estarmos na luta há muito tempo – desde 1977 – e por termos em mente que “Da poesia verdadeira não se esquece/ Todo poema tem força de prece/ Se vai desta vida o poeta seu autor/ A poesia no amor do leitor permanece.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

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