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09 fevereiro 2009

Cada qual no seu castelo

* Carlos Lúcio Gontijo

Enquanto o povo, como nos diz a canção de sucesso e baixo valor musical, permanece cada qual no seu quadrado – que tanto pode ser um barraco três por quatro, uma cova no cemitério ou uma cela, onde a violência e a desigualdade social costumam jogar os cidadãos menos favorecidos –, os abastados festejam sua riqueza nababesca em seus castelos.
O castelo Monalisa, pertencente à família do deputado mineiro Edmar Moreira, agora ex-corregedor da Câmara, é obra construída, entre os anos de 1982 e 1990, nas fraldas cada vez mais insalubres das montanhas de Minas Gerais, que, desde o Ciclo do Ouro, convive com a poluição e o desmatamento provocados pelas atividades de mineração. Ou seja, o castelo provinciano e sem serventia aparente era do conhecimento de todos os que circulam nas hostes políticas.
Estado mediterrâneo e síntese do Brasil, aqui, nas Gerais, não poderíamos ter paisagem social diferente daquela a que assistimos no restante do País. Aliás, o povo mineiro está tão acostumado com a suntuosidade de suas elites que o tal castelo sequer era motivo de admiração, revolta ou esconjuro da vizinhança, que só teve sua atenção chamada após a divulgação de sua existência pela imprensa nacional, mais exatamente de São Paulo, que, pelo visto, está à caça de políticos mineiros com algum desvio de conduta, com o objetivo de enfraquecer a intenção de o governador Aécio Neves sair candidato à Presidência da República pelo PSDB, notoriamente um partido sob o domínio da paulicéia desvairada.
Mais uma vez, um meio de comunicação do eixo Rio-São Paulo, como aconteceu no caso do escândalo do mensalão, que eclodiu nos teares do silêncio mineiro, nos revela mais um desmando, em que um deputado eleito pelo DEM-MG – sigla partidária na qual se abrigam os integrantes do mesmo PFL de antigamente e que, para não perder a face de seu passado, se nos apresenta liderado, na Câmara, pelo ruralista Ronaldo Caiado – , além de ser proprietário de castelo não declarado ao Fisco e à Justiça Eleitoral, deve cerca de 45 milhões ao INSS – um fato mais ou menos comum no meio empresarial brasileiro e, certamente, responsável pelos propalados déficits previdenciários.
Logicamente, para cada castelo que, casualmente, desmorona, outros são erguidos. Não importa o desfecho do caso do deputado do castelo sem reino, pois ao final das contas impera o velho chavão do sabe com quem está falando, freqüentemente repetido por gente graúda pega no contrapé da ilegalidade, da contravenção ou do crime. Na maioria das vezes, os castelos que permeiam as relações sociais não são materializados ou estão à vista como o castelo incrustado em solo mineiro, pois se encontram na simples manifestação de força e poder.
Não faz muito tempo (dia 16 de janeiro), na terra que tem como um de seus expoentes artísticos o cantor e compositor Milton Nascimento, a secretária do vice-governador de Minas Gerais, Marcela Amorim Brant, filha do ex-deputado federal Roberto Brant, foi abordada pelo segurança Antônio Carlos de Lima, funcionário de uma loja na região da Savassi, que lhe solicitou, no cumprimento de sua função, que não estacionasse seu veículo em local proibido, de uso exclusivo da loja. Inesperada e surpreendentemente, recebeu como resposta diversas ofensas e impropérios, em clara prática de preconceito racial.
O imbróglio se transformou em caso de policia. A PM mineira compareceu ao local colhendo depoimentos e o testemunho de quem havia presenciado o fato, encaminhando a secretária do vice-governador e o segurança para a delegacia. Todavia, a secretária resolveu estampar seus ares encastelados e logo os policiais que lavravam a ocorrência passaram a ser pressionados para “aliviar” o boletim de ocorrência sobre o inafiançável crime de racismo. O que ocorreria a seguir vem comprovar que os encastelados no governo se acham acima da lei e são bastante espertos para jamais atirar suas tranças... A notícia saiu no Novojornal – e só! Não teve repercussão, afinal os que habitam castelos raramente são alcançados pelo rigor da lei e, quando o são, não ficam presos ou recebem branda condenação. Então, não sejamos hipócritas e aproveitemos o caso do castelo Monalisa para vislumbrar os inúmeros castelos que nos rodeiam e aos quais a estapafúrdia e megalomaníaca obra do deputado não pode servir de sombra ou escudo protetor.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

2 comentários:

Anônimo disse...

meu caro frateramigo Lúcio,
Interessante que esse dono do Castelo foi militar na época da tortura e seus companheiros DEMOS nunca se preocuparam em expulsar esse ser nocivo...,
só afora os DEMoníacos, como se fosse paladinos da ética, moral e bons costumes exigem sua renuncia.
Porque só agora?

Anônimo disse...

A diferença de tudo isso é que o meu castelo, e o da maioria dos brasileiros, desaba todos os dias. Nós ficamos com os ônus e eles com os bonus.