Powered By Blogger

15 agosto 2009

Livros ao pé da árvore
e Obama de Nova Iguaçu

Carlos Lúcio Gontijo



Os que são guiados pelo dom divino da prática literária percebem, na maioria das vezes, a invisibilidade em que se acha envolvido o seu trabalho diante da carência de espaço para divulgação e da indiferença advinda da mais completa falta de hábito de leitura. E quando falamos em escassez de leitores não estamos debitando a triste realidade ao baixo índice educacional da população brasileira, pois uma imensa gama de professores, estudantes e graduados em curso superior não está nem aí para livros.
A produção literária é matéria desprovida de valor exatamente por não ser tomada como elemento prioritário na vida das pessoas cada vez mais movidas pelo imediatismo e atraídas pelo consumo imediato, capaz de fazer do supérfluo uma coisa essencial e alvo da atenção de todos. Então, na falta de hábito de leitura e gosto pelo embevecimento da alma proporcionado pela pureza inebriante da poesia, assistimos ao avanço da busca pela cocaína pura –para alegria do tráfico de drogas e propagadores da violência que nos assola.
Idealista e ao mesmo tempo amante da luta em prol da construção de uma sociedade menos injusta e mais fraterna, o advogado e escritor João Silva de Souza realiza, há um bom tempo, o trabalho solitário e bem-intencionado de colocar, estrategicamente, livros ao pé de árvores nas imediações da Praça da Liberdade.
Desejoso de encontrar e fazer contato com cidadãos civilizados e interessados na indispensável arte literária, ele escreve mensagem acompanhada de endereço em cada livro semeado ao lado das árvores que embelezam a famosa praça pública da capital dos mineiros. Contudo, o autor de tão inspirada iniciativa jamais recebeu sequer um telefonema ou um simples bilhete de agradecimento.
Felizmente, essa invisibilidade em que vive parte significativa dos que integram o malcuidado campo literário vem, aos poucos, sendo desfeita, ou melhor, diminuída com o advento da internet, que tem como relevância a instalação de um ambiente mais democrático e fora dos parâmetros impostos pelos tradicionais, glaciais e pretensamente eruditos cadernos de cultura editados pela grande mídia.
Outro dia, ao digitarmos nosso nome no Google, nos deparamos com uma prova de que estamos no limiar de novos tempos. Lá encontramos o seguinte tópico: “Vamos falar de poetas? – Yahoo! Respostas”, no qual o proponente escreveu altivo: “O que vocês acham dos poetas Lord Byron e Charles Baudelaire? E quais são os seus favoritos? Para nossa surpresa, uma resposta explícita saltou-nos aos olhos, remetendo-nos à importância do site que mantemos no ar com tanto empenho. “Não os conheço. Vou pesquisar. Mas veja alguns poetas portugueses: Carlos Lúcio Gontijo, Sérgio Porto, Carlos Morais Santos”. Assinado, Obama de Nova Iguaçu – com foto e tudo!
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

Um comentário:

Unknown disse...

Como já disse no outro blog, nunca vi nenhum livro ao pé das árvores da praça da Liberdade. Será que minha leitura, nos bancos daquele logradouro, me entretem e não os vejo? Serei mais atento!
Prefiro os autores nacionais. Você Carlos Lúcio, é um dos meus prediletos.
Abraços.
Antônio Fonseca