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04 setembro 2007

Musica da tribo

Por Antonio Veloso*


A antropologia mostra que diversos tipos de instrumentos musicais tiveram sua origem em simbolos sexuais, ou seja, na representacao dos órgaos genitais. Uma das principais funcoes da música na sociedades primitivas era celebrar os rituais de sexo e fertilidade.
De acôrdo com Darwin, a fala humana nao antecedeu a música, mas dela se derivou.O canto,para Darwin, era um dos meios de atracao e "galanteio" com vistas ao acasalamento e a fala só teria vindo depois, como um desenvolvimento disciplinado daquela linguagem sexual, aplicada a comunicacao entre as pessoas.
Assim, a música seria o código de comunicacao sexual por excelência, e a fala nao passaria de um derivado dêsse código, sua versao amenizada para fins de organizacao social.
A música esteve sempre presente em todas as fases da humanidade, acompanhando e refletindo a evolucao da história.É como uma trilha sonora da vida do homem neste planeta, da era das cavernas ao computador e celular.
O que se pode certamente afirmar é que os elementos formais da música, o Som e o Ritmo, sao tao velhos como o homem, inclusie êste é ritmo, no bater do coracao, no ato de respirar, seus passos já organizam um ritmo.E a voz do homem produz o som.
O ritmo se desenvolve mais rápidamente e isso é compreensível pois é êle que une a música, a poesia e a danca
É inconcebível a existência de uma sociedade sem cancoes, mitos ou expressoes poéticas.Por isso a música nao morreu e nunca morrerá
Som e ritmo sao encontráveis em todos os povos primitivos atuais,e sempre o ritmo bastante desenvolvido enquanto o som, geralmente, em estado muito elementar.
Analisemos êsse apêgo dos "primitivos"a uma música pouco melodiosa e predominantemente ritmica: Agindo poderosamente sobre a parte fisíca do ser, o ritmo provoca uma ativacao muito forte do ser biológico total, nao só físico, mas na complexidade maior do seu ser psiquico tambem.
Os primitivos agem mais fisica que mentalmente, a violenta luta pela vida os leva a desenvolver extraordináriamente certas faculdades do corpo: o faro, o tato, os instintos e pressentimentos, faculdades mais distantes da lógica racional-analítico-dedutiva-cartesiana.
Ora, o ritmo interessa muito mais ao corpo que o som.O ritmo "mexe"com a gente.
Outra causa importante, que leva os povos em estado natural a desenvolverem muito pouco a sonorizacao da música, é a fificuldade de criar instrumentos melódicos verdadeiramente ricos. Só dentro da Civilizacao Crista é que o homem conseguiu construir instrumentos como o órgao, o violino, a flauta e o piano atuais.
No geral os instrumentos dos primitivos sao muito pouco melódicos. Dao sonoridades cavernosas, roucas ou produzem apenas ruídos.
Música, entao, predominantemente rítmica, muito pouco melodiosa, socialística, no geral monótona e buscando favorecer, pelo caráter hipnótico, os efeitos mágicos da encantacao.Jamais se libertou da funcao religiosa, mágica e social.Música mágico ritual, guardada com zêlo pelos feiticeiros da tribo.
Como observou R. Lachmann: para o impulso sonoro vocal em si, nao interessa partitura, nao existe o preconceito de afinacao ou desafinacao------ tudo é Som , e sö o Som importa.
Técnicamente a música dos primitivos se define pela repeticao, geralmente em coral, de motivos ritmico-melódicos, tudo dependendo exclusivamente dos levantamentos e repousos de gestos e passos da danca, e principalmente das palavras dos textos cantados.
Músicos, musicólogos, compositores de renome se acercaram das tribos indígenas do Xingu e Amazonas, pesquisando seu acervo musical e com isso enriquecendo seu conhecimento musical e utilizando-o na hora de compor suas próprias cancoes. Dentre êstes podemos citar o maestro Rogério Duprat, o musico Egberto Gismonti e a cantora Marlui Miranda.
Gismonti, que tomou inesquecíveis licoes de música com o índio Sapaim, mestre de flauta do povo yawalapiti, do Xingu, rconhece:
-No comeco, voce se distancia, racionaliza: bom, é uma flauta de recursos limitados, só 4 notas, harmonia primitiva, e tal, ele é um músico primitivo, e tal...Esses papos. Mas de repente, quando você vê aquele homem tocando, e nao consegue separar o músico do instrumento e da música, e percebe como tudo é uma coisa só, una mesmo, como ele se integra completamente no universo, na natureza...fazendo isso naturalmentem enquanto a gentesofre anos a fio nas escolas de música, aí brota uma compreensao muito grande.

Antonio Veloso é cinéfilo e critico Musical e escrevce com regularidade nesse blog

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Velosão!!!

Belo texto, boa pesquisa, conclusões certeiras.

Agora, cá prá nós, você está muito mais próximo da MELODIA ocidental-européia-cristã do progressive rock do que do RITMO primitivo-africano-pagão dos Tambores do Carlinhos Brown, não?

Cheers

ceti/singelo

Moinante disse...

" ...Suave toque de seda preciosa
Cobertura fina e lustrosa ..."

Até sempre ...