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08 maio 2008

DIA DAS MÃES E ABOLIÇÃO

Carlos Lúcio Gontijo


O ADVENTO da globalização comercial, combinado com a supremacia das leis de mercado sobre a gestão do Estado, veio agravar não apenas as condições sociais de um elevado contingente de pessoas, mas também trazer de volta o acirramento da questão racial, uma vez que assistimos, hoje, a uma abertura sempre insuficiente de novos postos de trabalho, principalmente pelo fato de o crescimento econômico, dentro de um quadro de produção informatizada, não ter mais correlação com a absorção de mão-de-obra humana com direitos garantidos e carteira de trabalho assinada.
DESSA FORMA, alastra-se mundo afora uma competição sem precedentes pelo emprego, havendo o registro de muitos casos de perseguição a estrangeiros e a determinados grupos étnicos. Não poderia, portanto, o Brasil, integrado à conjuntura formada pela globalização econômica, escapar ileso, ainda mais que temos um passado histórico em que a escravidão dos negros era não somente legal, mas um comércio que chegou a representar quase 30% das importações brasileiras entre os anos de 1841 e 1850.
CULTURALMENTE, nossa propalada democracia racial não conseguiu vencer a enorme gama de preconceitos que se firmou ao longo dos anos em que se tomou como legítima a escravização dos negros. E isso não é uma mácula existente só no Brasil, pois nos Estados Unidos, país que conta com o salutar avanço de candidatura de cidadão negro à Presidência da República, a mesma nódoa de intolerância mancha o tecido social norte-americano, onde, vez por outra, ainda ocorrem incidentes e mortes originários de confrontos raciais.
A ABOLIÇÃO da escravatura – comemorada a 13 de maio no Brasil e que ocorre, neste ano de 2008, dois dias após a comemoração do Dia das Mães (domingo, 11) – deve transformar-se em um momento de reflexão, pois o racismo permanece, em pleno século XXI, uma realidade vergonhosa a ser enfrentada pela humanidade dita civilizada.
DADOS ECONÔMICOS levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos revelam a fria indiferença da sociedade diante da situação de nossos irmãos negros, que são em menor número no mercado de trabalho formal, percebem os menores salários e são, em ambígua constatação, a maioria em tempo de dispensas movidas por ambiente econômico desfavorável ou pela introdução de novos equipamentos tecnológicos nos meios de produção, sinalizando-nos que a pátria brasileira precisa trabalhar e esforçar-se muito mais, para ser, indiscriminadamente e em conformidade com a letra do hino nacional, a gentil mãe de todos.
Carlos Lúcio Gontijo
(www.carlosluciogontijo.jor.br)

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