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03 maio 2008

revolucionarios de araque

REVOLUCIONÁRIOS DE ARAQUE

Carlos Lúcio Gontijo


É TRISTE chegarmos à conclusão de que alguns dos que foram elevados à condição de heróis, durante o período de arbítrio militar, estejam, hoje, reivindicando indenização aos cofres públicos, por seu ato de bravura e resistência, do qual fizeram marketing pessoal e, desde a retomada da democracia, são figuras carimbadas em matéria de proximidade com os parcos recursos destinados à área cultural, onde muitos deles transitam fagueiros e luzidios.
CONTUDO, não-contentes de se alimentarem da escuridão ditatorial, talvez contaminados pela penumbra por ela irradiada, optaram por apresentar à Nação brasileira uma espécie de corpo de delito revolucionário extemporâneo, reclamando por possíveis danos materiais sofridos, apesar de terem construído parte de seu sucesso profissional sobre o alicerce de ex-combatentes do regime ditatorial militar instaurado em março de 1964, que lhes rendeu, ao terminar, o privilégio de ter todas as portas abertas para o prosseguimento de suas vitoriosas carreiras, sob a notoriedade patrocinada pelo rótulo de ex-cassados, ex-perseguidos, ex-exilados e por aí afora.
DESSA FORMA, dentre os seus males, a ditadura militar se nos revela, agora, uma grande incubadora de aproveitadores travestidos de revolucionários e idealistas, que, pelo que sabemos, têm no cumprimento de seu idealismo a própria remuneração, pois, quando isso não basta em pagamento à voluntária missão patriótica, temos o surgimento dos mercenários – os que se prestam a lutar ou defender causas por dinheiro.
É PARA LÁ de lamentável assistirmos ao pagamento, pelo Estado, de indenizações milionárias – completamente fora dos padrões experimentados pela imensa maioria dos brasileiros – a pessoas que se propuseram, espontaneamente, a lutar contra arbitrariedades, injustiças e desigualdades em nome do povo.
ENFIM, a verdade que ora pontifica é que, muitas vezes, o combatente tanto ganha a face quanto adquire os mesmos hábitos e comportamentos da fera à qual perseguia e, mais tarde, se nos apresenta portador de idêntico veneno letal. E, por falar em coisa peçonhenta, cuidamos de encerrar este nosso artigo com um poema antigo, intitulado Decreto-lei e que se encontra inserido em nosso livro Cio de Vento, editado em 1977, quando nos "empasquinhávamos" e tecíamos loas aos que se opunham à ditadura militar: A ferida da folha que cai/ Não arde ao sopro do vento/ Então, antes que tarde, Pai/ Decretai ao povo alento pleno/ Sem o veneno dos parlamentos.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

4 comentários:

Luiz Leitão da Cunha disse...

Lúcio,

Parece que os pedidos de "indenização" somam 60 mil, e que 30 mil já teriam sido avaliados, não me lembro quantos deferidos, mas é muita gente.

A família de Mario Covas, como eu te disse outro dia, pleiteia acho que um milhão ou mais.

Covas não apoiaria isso.

Lembrando aqui que os pais do soldado mário Kozel Filho, o jovem executado, aos 18 anos, aqui em SP, quando servia de sentinela no QG do II Exército, recebe um salário mínimo de pensão. Dois pesos e medidas...

Abraço,

Luiz Leitão

Anônimo disse...

Pois parece que casamos os mesmos sentimentos, meu amigo Carlos Lúcio. Mas, nos dias de hoje, precisamos ficar atentos e andar de luneta nas mãos à procura daqueles parlapatões da época. Eles continuam destilando seus venenos aos nossos suores.
Eu vi outros textos seus aqui. Vou lê-los depois.
Abraços.
Antônio Fonseca

Anônimo disse...

Lúcio,
Fico imaginando de quanto seria uma indenização justa para IRENA SENDLER, heroína polonesa que salvou a vida de milhares de crianças judias, arriscando a sua própria e que vivia (ou vive ainda, não sei), num asilo em Varsóvia. Parabéns meu amigo por se manifestar sobre esta questão tão polêmica. Em uma enquete na Folha on line de hoje, 80% dos votos são a favor de que é preciso rediscutir o valor das indenizações pagas a anistiados políticos. Grande abraço. Ronaldo Lacerda Souto

José Carlos Alexandre disse...

Está certo o meu adorável amigo Carlos Gontijo.Falo com conhecimento de causa pois também deveria requerer algum tipo de indenização, pois um dos critérios para receber a mamata é ter sido demitido.E eu o fui, em 1964, sob acusação de subversivo, quando era
contra a ditadura, qualquer ditadura.
José Carlos Alexandre