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19 agosto 2008

a gratidão é tudo

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A GRATIDÃO É TUDO

Carlos Lúcio Gontijo



HÁ ANOS, criticamos a inexistência de política cultural no Brasil, cujo governo se faz presente no setor por intermédio de instrumento de incentivo que apenas funciona, para os incansáveis autores, como autorização legal para captação de recursos junto à área privada, onde apenas as obras literárias e criações artísticas de fácil aceitação, ou apelo comercial, encontram o tão procurado abrigo, que só é alcançado por produtores culturais que são focalizados pelos holofotes da mídia. Dessa forma, a grande maioria dos que movem a arte brasileira não é contemplada pela lei de incentivo cultural. Se artista de qualquer segmento recorrer a uma empresa de reconhecido poder econômico, a pergunta que ele ouvirá é se o seu trabalho é de valor e importância nacional, não se atendo a política de liberação de recursos para a cultura à proximidade e à análise do engenho artístico como elemento espiritual capaz de contribuir para a melhoria do ser humano, que uma vez sensibilizado não comete nem se torna agente da violência que cresce Brasil afora, feito erva daninha em lavoura malcuidada.
VIEMOS de Santo Antônio do Monte, cidade localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais, e estamos na estrada literária desde 1977, quando editamos nossa primeira obra. Não é fácil conseguir auxílio para a edição de um livro, tanto pela falta de hábito de leitura mais efetivo no Brasil, quanto pela mais absoluta má vontade de empresas e autoridades, que se fazem de surdas, mesmo quando estão na condução de órgãos ligados à cultura, que só é vislumbrada dentro do chamado grande evento, onde produtos passageiros (da moda) enchem praças públicas, como é tão comum observar em municípios do interior, que muitas vezes não dispõem sequer de uma biblioteca, cinema ou pequeno teatro, mas se dão ao luxo de despejar milhões em shows com a participação de figurões e seus populares “créus” musicais.
FIZEMOS ESSE preâmbulo apenas para dizer do nosso contentamento em constatar o resultado final de nossa espontânea aquiescência na cessão (sem ônus para o solicitante) do romance Cabine 33 para realização de vestibular na Faculdade de Administração de Santo Antônio do Monte (FASAM), no ano de 2005, atendendo a pedido de um de seus fundadores, o engenheiro Ronald Antônio do Couto e Silva. Naquela oportunidade, doamos àquela faculdade uma significativa quantidade de livros, que serviu inclusive para a realização de outro vestibular, em 2007, já sobre nova gestão.
POIS BEM, os anos se passaram e, agora, no momento em que necessitamos de apoio para a edição do nosso 12º livro, o romance Jardim de Corpos, Ronald do Couto, por livre e particular iniciativa, nos passou um cheque para nos auxiliar na difícil missão de imprimir mais uma obra literária, desta feita programada para ter mais de 300 páginas, 20 ilustrações, fotos etc. Confessamos, publicamente, a nossa emoção, pois vivemos em época da mais intensa indiferença, na qual o esquecimento e o virar as costas quando os interesses mudam – cobrando e exigindo outras fontes – são o comportamento comum a que a imensa maioria se permite. A bem da verdade, não estamos aqui louvando o desprendimento material do engenheiro Ronald, mas a grandeza de seu gesto iluminado pela gratidão – um sentimento cristão, que funciona como combustível da vida em sociedade e ao qual deveríamos cultivar, sob a certeza de que, sem ele, o que temos é o vale-tudo, a falta de amor ao próximo e a desvalorização da vida, que nada mais é que uma explícita prova de ingratidão para com o Criador.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor

Um comentário:

Anônimo disse...

Carlos Lúcio:

Machado de Assis disse que
"A gratidão de quem recebe um benefício é bem
menor que o prazer daquele de quem o faz".
Daí, a maravilha do "receber e do dar".
Você e Ronald se proporcionaram a
mesma gratidão, em tempos diversos.
Sempre, sempre, se colhe o que se planta.
Gostei de seu gesto humilde,
de muita dignidade, no agradecer.
Abraço,
Maria Helena